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7 de julho de 2014

"Vinde a mim" - Reflexão sobre o Evangelho do Papa Francisco

Reflexão do Papa Francisco sobre o Evangelho de domingo – 6 de julho.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho deste domingo encontramos o convite de Jesus, que diz: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Quando Jesus diz isso, ele tem diante de seus olhos as pessoas que encontra todos os dias nas ruas da Galiléia: pessoas simples, pobres, doentes, pecadores, marginalizados ... essas pessoas sempre o procuravam para ouvir a sua palavra – palavra que dava esperança! As palavras de Jesus sempre dão esperança! – E também para tocar a orla de seu manto. Jesus mesmo buscava essas multidões aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,35-36), e os buscava para anunciar o Reino de Deus e curar muitos no corpo e no espírito. Ele chama todos para si: "Vinde a mim", e promete-lhes alívio e refrigério.
Este convite de Jesus se estende até os dias atuais, para chegar a muitos irmãos e irmãs oprimidos por condições de vida precária, por situações existenciais  difíceis e, as vezes, sem pontos de referência. Nos países mais pobres, mas também nas periferias dos países mais ricos, há muitas pessoas aflitas e desamparadas sob o peso insuportável do abandono e da indiferença. Indiferença: quão ruim é para os necessitados a indiferença humana! E pior, a indiferença dos cristãos! As margens da sociedade há muitos homens e mulheres provados pela indigência, mas também pela insatisfação da vida e frustrações. Muitos são forçados a emigrar da própria pátria, arriscando a própria vida. Muitos carregam o peso de um sistema econômico que explora o homem, impõe um "jugo" insuportável, que os poucos privilegiados não querem levar. A cada um desses filhos do Pai que está nos céus, Jesus diz: "Vinde a mim, todos vós." Mas também diz àqueles que possuem tudo, mas cujo coração está vazio e sem Deus. Também a eles, Jesus dirige este convite: "Vinde a mim". O convite de Jesus é para todos. Mas de maneira especial para aqueles que sofrem mais.
Jesus promete dar descanso a todos, mas também faz um convite, que é como um mandamento: "Tomai sobre vós meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração" (Mt 11, 29). O "jugo" do Senhor consiste no carregar o peso do outro com amor fraternal. Tendo recebido o alívio e o conforto de Cristo, somos chamados  a ser alívio e conforto para os irmãos, com atitude de mansidão e humilde, à imitação do Mestre. A mansidão e a humildade de coração, não só nos ajudam a tirar o peso do outro, mas a não sobrecarrega-los com nossos preconceitos, nossos julgamentos, nossas críticas ou nossa indiferença.
Invocamos a Virgem Maria, que acolhe sob o seu manto, todas as pessoas aflitas e desamparadas, para que através de uma fé iluminada, testemunhada com s vida, possamos  ser alívio para aqueles que precisam de ajuda, de carinho e de esperança. 

3 de julho de 2014

Testemunho de um esportista - Devoção e graça


A devoção aos Santos não é uma exclusividade dos católicos. Mas na Igreja, esta prática ganha uma dimensão especial. O artigo que se segue apresenta um belo testemunho, no esporte, de fé e bênção. O texto é de Mirticeli Dias Medeiros e foi publicado no ZENIT.

O Brasil não é somente o país do futebol, mas também pode ser considerado o país do voleibol. Desde a medalha de ouro de Barcelona, em 1992, a modalidade, no Brasil, é uma força emergente.  Atualmente, a seleção brasileira de voleibol masculino está em primeiro lugar no ranking oficial da FIVB (Federação Internacional de Voleibol) e muitos jogadores brasileiros são reconhecidos internacionalmente. 

O carioca Riad Garcia Ribeiro, de 32 anos, é um desses jogadores. O central, que é atleta profissional desde 2000 e atualmente joga pelo Sesi-SP, já coleciona uma série de conquistas no Brasil e fora do Brasil. Mas talvez uma de suas maiores conquistas não tenha chegado ao conhecimento de muitos que o acompanham e admiram à distância: a sua caminhada de fé.


A vida do atleta é nutrida pela devoção à Santa Rita de Cássia a partir de um episódio que mudou a sua vida de uma vez por todas. A fé na intercessão de uma das santas italianas mais populares do mundo, não somente levou o seu time – na época o Trentino, da Itália -, a ser campeão da Champions League, em abril de 2009, mas mudou os rumos de sua trajetória.


“Muitas coisas aconteceram em minha vida pela intercessão de Santa Rita. Um desses acontecimentos foi uma graça muito grande que recebi em 2009 quando tive uma lesão no joelho direito”, ressaltou o atleta.

O inexplicável

A graça, relatada pelo jogador acima, a qual ele atribui à intercessão de Santa Rita, foi ter disputado a semifinal e a final da Champions League sem um incômodo sequer, mesmo com um quadro de lesão que, segundo os médicos, lhe causaria dores terríveis e posteriormente o obrigaria a se afastar das quadras por cerca de um ano.


"Decidi pedir a Santa Rita que intercedesse por mim junto ao Senhor para que Ele tirasse aquela minha dor durante os dois dias das finais [...] E se eu conseguisse jogar sem dor e ganhássemos o campeonato, eu levaria a camisa na qual eu jogasse a final ao Santuário de Santa Rita em Cássia. Como uma forma de agradecimento pela graça alcançada. E assim aconteceu: consegui jogar as duas partidas sem dor e fomos campeões!”, explicou.


E a promessa foi cumprida. A camisa usada por Riad, nesse dia que marcou sua carreira, foi depositada ao lado do corpo incorrupto de Santa Rita em Cássia, na Itália.

Uma fé em crescimento

Desde então, o jogador de vôlei passou a colecionar, além das vitórias conquistadas nas quadras, uma série de acontecimentos que fizeram com que ele se tornasse um católico ainda mais fervoroso. O atleta interpreta sua devoção como um meio para que Deus se torne o critério para suas escolhas no dia-a-dia.

“Hoje encaro a vida com mais fé. [...] Procuro rezar mais, pois Santa Rita passou por inúmeras adversidades e dificuldades em sua vida e nunca desanimou e jamais perdeu a fé em Deus! Hoje, em todas as minhas orações, ao final, digo sempre: ‘E que seja feita sempre a Tua vontade Senhor’ “, afirmou Riad.

E não para por aí.  Riad foi convidado para levar a cruz olímpica durante o encontro do Papa Francisco com os atletas, que aconteceu na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, em julho de 2013. Além disso, chegou a ampliar a reforma de sua casa para acomodar peregrinos vindos da região Nordeste do país.

A experiência vivida em meio aos milhões de jovens na praia de Copacabana, também motivou o atleta a confirmar suas promessas batismais através do Sacramento do Crisma, em 15 de dezembro de 2013.

“O Crisma, desde que voltei a jogar no Brasil, era um desejo muito grande. E comecei a me preparar justamente depois da JMJ [...] Tudo aquilo que senti na Jornada influenciou para que eu tivesse ainda mais vontade de fazê-la. O Riad católico procura sempre estar caminhando junto com a igreja. Vai à missa aos domingos, confessa, reza e procura ler sobre a igreja”, concluiu.

1 de julho de 2014

Política, Evangelho e os rumos da Igreja - Entrevista com o Papa Francisco


O Papa Francisco cedeu uma entrevista à Franca Giansoldati, do jornal italiano Il Messagero, no final de junho. A entrevista foi traduzida e publicada na íntegra no sítio da Unisinos (IHU). Na segunda parte, Francisco falou sobre política. Há menos de uma semana para o início das campanhas eleitorais no Brasil, acompanhar a palavra do Papa pode clarear um pouco mais para a importância da política, que passa por um período de crise, mas que deveria ser redescoberta. Também - e como não poderia deixar de ser -, falou da Igreja, do Evangelho e dos pobres. Seguem alguns trechos da entrevista:

O encontro é em Santa Marta, à tarde. Uma rápida verificação, e um guarda suíço me faz sentar em uma pequena sala de estar.

Seis poltroninhas verdes de veludo um pouco desgastado, uma mesinha de madeira, um televisor daqueles antigos, com a "barriga". Tudo em perfeita ordem, o mármore polido lucidamente, alguns quadros. Poderia ser uma sala de espera paroquial, uma daquelas a que se vai para pedir um conselho ou para fazer os documentos de casamento.

Francisco entra sorrindo: "Finalmente! Eu a leio e agora a conheço". Eu coro. "Eu, ao contrário, o conheço e agora o escuto". Ele ri. Ri com gosto, o papa, como fará outras vezes no decorrer de mais de uma hora de conversa livre. [...]

Existe uma hierarquia de valores a ser respeitada na gestão da coisa pública?

Certamente. Proteger sempre o bem comum. A vocação para qualquer político é essa. Um conceito amplo que inclui, por exemplo, a proteção da vida humana, a sua dignidade. Paulo VI costumava dizer que a missão da política continua sendo uma das formas mais altas de caridade. Hoje, o problema da política – eu não falo só da Itália, mas de todos os países, o problema é mundial – é que ela se desvalorizou, arruinada pela corrupção, pelo fenômeno dos subornos. Lembro-me de um documento que os bispos franceses publicaram há 15 anos. Era uma carta pastoral que se intitulava "Reabilitar a política" e abordava justamente esse assunto. Se não houver serviço na base, não se pode entender nem mesmo a identidade da política.

O senhor disse que a corrupção tem cheiro de podridão. Também disse que a corrupção social é o fruto do coração doente e não só de condições externas. Não haveria corrupção sem corações corruptos. O corrupto não tem amigos, mas idiotas úteis. Pode nos explicar isso melhor?

Eu falei dois dias seguidos desse assunto, porque eu comentava a leitura da Vinha de Nabot. Gosto de falar sobre as leituras do dia. No primeiro dia, abordei a fenomenologia da corrupção; no segundo dia, de como acabam os corruptos. O corrupto não tem amigos, mas apenas cúmplices.