Querido Mons.
Gabriel, meus caros padres, diáconos, religiosos e religiosas,
seminaristas, vós que sereis instituídos como Ministros da Palavra
e Animadores das pequenas comunidades, os que nos acompanham pela TV
Mãe de Deus e vós todos irmãos e irmãs,
Vindos de todas
as paróquias de nossa Diocese e reunidos pela fé, nesta Grande
Vigília de Pentecostes, esperamos e imploramos do Pai o dom do
Espírito prometido por Jesus, para que, como água viva, jorre sem
cessar em cada um de nós, nas nossas famílias, nas pequenas
comunidades, nos movimentos e pastorais, nas paróquias de nossa
diocese e no mundo inteiro.
São Lucas, autor
dos atos dos Apóstolos nos fala do Pentecostes através de símbolos
coloridos. O primeiro deles é a casa. “os discípulos estavam
reunidos no mesmo lugar... e um vento forte encheu a casa em que se
encontravam”. Um grupo de homens e mulheres dentro de uma casa
qualquer. A Igreja começou numa casa, num espaço limitado, com
poucas pessoas. Em casa as pessoas que se conhecem, se relacionam,
partilham a vida, as alegrias e as tristezas, se ajudam mutuamente,
vivem a experiência do amor. É na casa que a pequena comunidade se
encontra e cresce.
De uma igreja de
massa,
precisamos urgentemente
passar para uma Igreja-família,
recuperar a dimensão doméstica
da vida cristã. A tão falada
conversão pastoral de
nossa Igreja passa pela
setorização das
nossas
paróquias em pequenas
comunidades eclesiais.
Mas isso não é possível se não houver quem pastoreie, quem anime e coordene as pequenas comunidades. Foi por isso que em nossa 3ª Assembleia Diocesana nos comprometemos a cuidar da formação dos animadores, do seu acompanhamento e de sua avaliação. E aqui estão vocês, queridos animadores das pequenas comunidades fruto deste trabalho, prontos para animar, acompanhar, cuidar as pequenas comunidades existentes, fortificá-las, multiplicá-las e incentivar a sua criação nas periferias de nossas cidades, sobretudo lá onde a Igreja está ausente. E também vocês irmãos e irmãs, escolhidos para serem ministros da Palavra.
“Um vento forte encheu a casa onde se encontravam” (At 2,2).
Jesus tinha prometido o dom do seu Espirito Santo. E chegou, naquele
dia, como um vendaval sacudindo a casa, varrendo do coração dos
discípulos o medo, o desânimo, a timidez, a acomodação, a
tristeza. Também nós nesta noite pedimos que
o Espírito
purifique o coração da sua Igreja. Coloque
verdade entre nós. Ensine-nos a
reconhecer os nossos pecados e limitações. Nos recorde que somos
como todos: frágeis, medíocres e pecadores. Liberte-nos da nossa
arrogância e falsa segurança. Nos ajude a caminhar com mais verdade
e humildade.
“Encheu a
casa”. O Espírito enche a sua casa, a sua Igreja. Sem o Espírito
a Igreja é uma casa apagada, fechada, opaca, triste, paralisada, sem
vida, sem futuro, estéril, infecunda. Sem o Espírito Santo as
nossas paróquias, comunidades, pastorais e movimentos e cada pequena
comunidade são estruturas velhas, mortas, insignificantes, incapazes
de levar as pessoas ao encontro com Cristo, de dar sentido as suas
vidas, de reacender sua esperança e de levá-las a vivência do
mandamento do amor.
“Encheu a
casa”, quer dizer que encheu todos os que estavam naquela casa, que
faziam parte daquela família, aquela célula inicial da Igreja. O
Espírito encheu e dilatou aquela casa, aquele pequeno grupo, abriu
os seus horizontes. E nós, nesta noite, pedimos que o Espírito
Santo encha a nossa Igreja de Castanhal, dilate o coração do bispo,
dos padres, diáconos, religiosos/as, de cada batizado, de todos os
irmãos e irmãs que fazem parte das nossas pequenas comunidades,
sobretudo encha o coração de cada animador, pois quem anima o
animador é o próprio Espírito Santo.
O termo
“animador” vem da palavra
latina “anima”, que quer dizer
“alma”;
o animador é a alma da pequena comunidade.
Não caiamos no equívoco de pensar que o bom animador é aquele que faz barulho, puxa um “flash-móvel” ou leva na onda do ôba-ôba uma multidão. Não! Um animador é de fato a alma de uma pequena comunidade quando se deixa animar e conduzir pelo Espírito Santo, por Ele introduzir na plena verdade e guiar a compreensão interior da Palavra de Jesus, quando se deixa ajudar a discernir entre o bem o e mal, e encontra nEle a fortaleza para perseverar no bem e vencer nas provações.
O bom animador sabe que é o Espírito
Santo que desperta a nossa fé débil,
pequena e vacilante. É Ele que nos ensina a viver confiando no amor
insondável de Deus nosso Pai a todos os seus filhos e filhas,
estejam dentro ou fora da tua Igreja.
Queridos animadores, a vossa primeira missão é
ajudar os irmãos de sua pequena comunidade a encontrar Jesus, a
descobrir a beleza do seu amor e isso só é possível graças ao
Espírito
Santo. Lembrem que nem o Bispo, nem os padres, nem o animador são o
centro da Igreja. O centro da Igreja, o centro da pequena comunidade
é Jesus. Que nada nem ninguém O suplante nem O obscureça. Que o
Espírito
Santo nos atraia para o Evangelho de Jesus, nos dê a graça de
converter-nos para segui-lo.
Que não fujamos da sua Palavra, nem nos desviemos do seu mandato de
amor. Que não se perca no mundo a sua memória. Mais intensa e
profunda for nossa relação de amor com Jesus, através da vida em
comunidade, da sua Palavra, dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia
e dos pobres, mais atrativo e autêntico
será nosso testemunho.
“E apareceram línguas como de fogo que se
repartiram e pousaram sobre cada um deles” (At 2, 3). O fogo é
símbolo de Deus e da nossa vida acendida, abrasada e iluminada por
Ele e pelo seu amor. Um fogo que com a força do vendaval se reparte,
se espalha e alcança a todos, chega à alma de todos, se faz
presença amorosa em todos.
Queridos animadores, a vossa missão é a de
saber reconhecer em cada irmão e irmã a presença e a ação do
Espírito
de Jesus, levando cada um a partilhar os dons de Deus com os outros.
Vocês animam a pequena comunidade não quando vocês fazem tudo, mas
quando sabem valorizar o dom e a diversidade de cada um e integrá-lo
na harmonia da comunidade.
“E começaram a falar em outras línguas,
conforme o Espírito
lhes concedia expressar-se” (At 2,4). Que bonito encontrar irmãos
que abrem seus ouvidos ao Espírito,
escutam os seus chamamentos, e quando falam de Deus seus olhos
brilham, sua voz embaça, com espontaneidade animam, encorajam,
confortam, e contam o Evangelho com simplicidade ajudando os irmãos
a perceber, mesmo nos sofrimentos, conflitos e contradições, a
presença viva e amorosa de Deus.
O que aconteceu no dia de Pentecostes foi além
daquelas paredes daquela casa, transbordou, invadiu a praça de
Jerusalém, atraindo gente dos quatro cantos do mundo. O Espírito
não pode ser contido, guardado, encaixotado. Da mesma forma quem
recebe o Espírito
é lançado para fora, na praça do mundo. As nossas pequenas
comunidades serão Igrejas
autênticas
se não se fecharem em si mesmas, se estiverem de portas abertas para
acolher a todos, e sempre com o pé na estrada, prontas para ir ao
encontro de todos. Cuidado em não tornar nossas comunidades um ninho
protetor da nossa mediocridade, ou esconderijos de nosso intimismo.
A
comunidade de Jerusalém
com o dom do Espírito
nasce
missionária.
O Espírito
só
gera comunidades missionárias,
nos torna livres e criativos, nos
lança para fora no mar da história
para descobrir, quanto mais
navegamos novos mares: nós
somos a vela
e Ele o vento.
Se as nossas comunidades não forem
missionárias
não são obra do Espírito,
não levam a nada. São missionárias
somente se forem fecundas, se crescerem e se multiplicarem e atrair
para Cristo novos irmãos, se cada membro da pequena comunidade tiver
consciência de ser missionário e viver ativamente a missão,
cuidando, acompanhando e rezando pelo menos por um irmão afastado,
um parente, um amigo, um vizinho, um colega de trabalho, em fim, se
com alegria, partilhar com eles sua fé e sua experiência do amor de
Deus que salva.
E nós, bispo, padres, diáconos, ministros da
Palavra, animadores das pequenas comunidades e cada batizado somos
chamados – como nos repete insistentemente o papa Francisco, a
irmos ao encontro das pessoas, “acompanhando-as como o bom
samaritano que lava, limpa, levanta o seu próximo... capazes de
aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de
saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão,
sem perder-se... de sair de si, de ir ao encontro de quem não
frequenta a Igreja, de quem a abandonou ou lhe é indiferente”
(Papa Francisco 19 de agosto 2013), para anunciar-lhes, “as
maravilhas de Deus” (At2,11): o seu infinito amor (do
Senhor) que
salva e a sua eterna misericórdia.
Que o Espírito Santo
nos ensine a olhar de
forma nova a vida,
o mundo e, sobretudo,
as pessoas.
Que aprendamos a olhar como Jesus olhava aos que sofrem, aos que choram, aos que caem, aos que vivem sós e esquecidos. Se mudar o nosso olhar, mudará também o coração e o rosto da sua e da nossa Igreja. Se nos esforçarmos a ser autênticos discípulos de Jesus, irradiaremos melhor a sua proximidade, a sua compreensão e solidariedade para com os mais necessitados. Iremos parecer-nos mais ao nosso Mestre e Senhor.
Celebrando os 10 anos de nossa Diocese, ainda
muito comovidos pela santa partida ao céu do nosso querido e amado
Pai, Dom Vicente Zico, pedimos que ele interceda por nós junto de
Jesus por nossa Diocese, invoque sobre nós o Espírito Santo para
que fortaleça nossos padres e diáconos, ilumine os ministros da
Palavra, sustente os passos dos animadores das pequenas comunidades,
para que estas sejam mais felizes, alegres, em paz e acolhedoras.
Torne os animadores, discípulos missionários que acompanham
discípulos missionários. Faça de nós
uma Igreja de portas abertas, coração compassivo e esperança
contagiosa. Que nada nem ninguém nos
distraia ou desvie do projeto de Jesus: fazer um mundo mais justo e
digno, mais amável e ditoso, abrindo caminhos ao Reino de Deus.
Amém.
+ Carlos Verzeletti
Bispo de castanhal