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10 de outubro de 2013

Sobre peregrinos e Dioceses irmãs - A Fé que caminha

Peregrinos vão em busca de bençãos, para agradecer graças alcançadas e para rezar
A fé do povo amazônico se evidencia em tempos de Círio, numa manifestação que ganha proporções reconhecidas mundialmente. O Círio não é no domingo; na verdade começa antes, e uma figura importante nessa preparação é o Romeiro, aquele que sai dias antes de sua casa e segue a pé para Belém. Saídos de diversas cidades, mais perto ou mais longe, vão unidos por um mesmo objetivo: a devoção à Nossa Senhora.
O amor do povo católico por Maria vem desde os primórdios do cristianismo, pois consagrados como filhos da Mãe de Jesus ainda na crucificação, os cristãos passaram a vê-la cada vez mais como parte do mistério que foi a encarnação do Filho de Deus.
Estes grupos de romeiros que vão caminhando até a capital do Pará - que neste período é verdadeira capital da fé, também saem de Castanhal. Ainda hoje pela manhã uma rede de televisão local fazia a cobertura da chegada dos peregrinos e encontrou com uma caminhante que havia saído e Castanhal e acabava de chegar ao local de recepção organizado pela Arquidiocese de Belém. Mal a jornalista deu bom dia, a mulher começou logo a chorar e foi apenas capaz de dizer “estou muito emocionada, pois mesmo quando pensei em desisti, pedi forças e agora entendo o quanto é bom não ter desistido”.
Muitos ao ver essa cena ficarão completamente sem entender, até criticarão o sacrifício da mulher ou excessos de peregrinos no Círio. A pergunta maior é porque eles caminham? Porque se emocionam? Que significado tem isso?
A fé é um dom, entra pelo coração e pela cabeça. Se explica mas não necessariamente se entende; ora, quando amamos alguém, podemos até enumerar motivos para esse amor, mas a gênese, quando o amor é verdadeiro, que nos faz abrir mão de tantas coisas, que nos faz querer o bem do outro tantas vezes acima do nosso não se explica. Porque? Por que o amor não é cálculo.
A caminhada dos peregrinos é um triplo encontro: o primeiro é consigo, a possibilidade de passar alguns dias em contato direto com o seu próprio coração, ouvindo e refletindo a própria vida a partir do olhar atento do Evangelho, de Jesus; o segundo encontro é com os irmãos, que juntos são manifestação do amor de Deus, se apoiando, rezando junto, sendo comunidade numa sociedade em que cada um trabalha em sua sala, se resumindo as relações a um bom dia. Tudo bem? Apressado. Quantos sorrisos partilhados, quantas lágrimas? Isso é comunidade que caminha no sentido exato da palavra. O terceiro encontro é com a pessoa de Deus, pois Maria só tem significado, só é importante porque Deus elevou os humildes em sua pessoa. Maria não é a imagem na berlinda, mas é imagem do projeto de Deus para cada um de nós. De fato, a confiança desses peregrinos se confunde um pouco com a confiança segura, até mesmo infantil da jovem Maria em Deus, ao dizer seu sim numa entrega permanente para o resto da vida.
O Círio só entende quem vive, quem se entrega e abre o coração para o maremoto, ou melhor, Mariamoto de fé que toma conta da cidade de Belém. Os peregrinos de Castanhal lembram sempre a ligação da Diocese de Castanhal com sua Arquidiocese de origem, e indo além, da comunhão tão bonita e tão própria da Igreja.

 Romaria de Castanhal
Em breve chega também a Romaria de Castanhal, festa celebrada com fé e alegria pelo povo, e quantos de Belém também vem participar, celebrar o amor de Deus. Tendo em vista a renovação deste mundo tão bonito mas ainda tão feio pela carência do amor verdadeiro, ágape, possa o Círio de Belém e a Romaria de Castanhal nutrir a fé e impulsionar o anúncio de Jesus, caminho, verdade e vida.

Paulo Correa

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