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23 de novembro de 2015

HOMILIA da ORDENAÇÃO SACERDOTAL de DANIEL PACIFICO e de EDERSON

Castanhal, 21 de novembro de 2015


SOLENIDADE DE CRISTO REI DO UNIVERSO
HOMILIA da ORDENAÇÃO SACERDOTAL de DANIEL PACIFICO e de EDERSON


As últimas palavras do evangelho desta solenidade são: “escuta a minha voz”. O discípulo é um coração que escuta. Só a partir desta escuta podemos compreender o que é a verdade e o sentido da realeza de Cristo que declara: “Eu sou rei”, “Eu sou o alfa e o ômega, - afirma no Apocalipse - aquele que é, que era e que vem, o todo poderoso, a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra, aquele que ama, aquele que liberta”.

Diante de Pilatos que pergunta se ele é rei, Jesus responde: “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. A verdade testemunhada por Jesus é um Pai que ama. Esta é a verdade pela qual ele veio dar testemunho. Vim para o martírio de um Deus que ama. Esta é a verdade que ilumina: um Deus que ama e que liberta com o seu sangue. A realeza de Jesus não está no poder, na força dos exércitos, mas no testemunho-martírio do amor de Deus.

Com sua realeza Cristo veio fazer de todo homem um rei, capaz de amar e servir. Veio fazer de todo homem um profeta que escuta e transmite a palavra, que lembra os homens a Deus e lembra Deus aos homens. Veio fazer de todo homem um sacerdote, mediador entre o céu e a terra, capaz de abençoar Deus e o mundo, de bem-dizer, de ver e abençoar o bem e a luz, o amor e a profecia. Sejam, pois, abençoados todos os leigos de nossa diocese que vivem seu batismo e que no serviço a Igreja e aos irmãos seguem Jesus Cristo Rei, Sacerdote e Profeta.

Naquele rei crucificado, coroado de espinhos, aparece a esplendida beleza do Pai, amante do homem. Aparece também a realeza de Adão que consiste no amor e no serviço. Jesus, um rei servo. Eis o paradoxo luminoso da fé de hoje: um rei servidor. O seu manto real é o avental com o qual cinge-se para lavar os pés dos discípulos. O nosso rei não está acima de nós, sobre nós, mas ajoelhado aos nossos pés. O nosso rei não está acima de nós, mas a nosso serviço, a serviço da vida. O seu é um reino de serviço reciproco que acende liberdade e amizade entre todas as criaturas.
Olhando para a face deste Cristo Rei Jesus, vemos, antes de tudo, o rosto de um Deus «esvaziado», de um Deus que assumiu a condição de servo, humilhado e obediente até à morte (cf. Fl 2, 7). A face de Jesus é semelhante à de tantos nossos irmãos humilhados, escravizados, esvaziados. Deus assumiu o seu rosto. E aquele rosto olha para nós. Se não nos abaixarmos não poderemos ver a sua face. Nada veremos da sua plenitude se não aceitarmos que Deus se esvaziou.
E olhando para a face de Jesus descobrimos os traços próprios de um padre. Em primeiro lugar a humildade, pois Jesus “não usou de seu direito de ser tratado como um deus, mas se despojou” (Fl 2, 6). Aqui há uma mensagem perfeita. Não deve fazer parte dos nossos sentimentos de padres a obsessão de preservar a nossa glória, a nossa «dignidade», a nossa influência. Somos chamados a perseguir a glória de Deus que brilha na humildade da gruta de Belém e na cruz de Cristo.
Em segundo lugar, a abnegação. «Sem cuidar cada um só do que é seu, mas também do que é dos outros» (Fl 2, 4), pede são Paulo. Portanto o Senhor pede a nós padres que procuremos a felicidade de quem está próximo de nós. Quando pensamos demais a nós mesmos, viramos narcisistas, não deixamos lugar para Deus e nos tornamos incapazes de sair ao encontro dos irmãos e de sermos homens segundo o Evangelho de Jesus. Ao nos tornar padres decidimos entregar a nossa vida, nos doar totalmente a Ele e aos irmãos. Só assim o nosso ministério si torna fecundo.
Em terceiro lugar, a alegria. Nós sacerdotes somos apóstolos da alegria, anunciamos o Evangelho, isto é a Boa Notícia por excelência; não somos certamente nós a dar força ao Evangelho, mas podemos favorecer ou obstaculizar o encontro entre o Evangelho e as pessoas. Jesus fala da felicidade que só sentimos quando somos pobres de espírito, quando praticamos a solidariedade, a partilha, inclusive do pouco que possuímos, quando nos sacrificamos diariamente por amor às pessoas. E para termos alegria e sermos «bem-aventurados», para beneficiar da consolação da amizade com Jesus Cristo, é necessário manter o coração aberto. A bem-aventurança é uma aposta laboriosa, feita de renúncias, escuta e aprendizado, cujos frutos se colhem no tempo, proporcionando-nos uma paz incomparável.

Jesus, é o Filho de Deus que se abaixa, enviado pelo Pai como homem para o meio dos homens, habitou entre nós e quis assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, menos no pecado. Da mesma forma vocês, Ederson e Daniel - como declara Presbiterorum ordinis, o decreto conciliar que no próximo dia 07 de dezembro completa 50 anos – vocês estão sendo tirados dentre os homens e daqui a pouco constituídos a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecerem dons e sacrifícios pelos pecados, convivendo fraternalmente com os homens. O ministério sacerdotal que vão assumir exige que não vos conformeis a este mundo, mas que vivais neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçais as vossas ovelhas e procureis trazer aquelas que não pertencem a este redil, para que também elas ouçam a voz de Cristo e haja um só rebanho e um só pastor.

Para conseguirem isso, são importantes as virtudes da bondade, da sinceridade, da fortaleza de alma e constância, do cuidado assíduo da justiça, da delicadeza, e outras que o Apóstolo Paulo recomenda quando diz: «Tudo quanto é verdadeiro, tudo quanto é puro, tudo quanto é justo, tudo quanto é santo, tudo quanto é amável, tudo quanto é de bom nome, toda a virtude, todo o louvor da disciplina, tudo isso pensai» (Fil. 4,8).

Lembrem que a nossa humanidade é o vaso de barro onde guardamos o tesouro de Deus, um vaso do qual devemos ter cuidado para transmitir bem o seu precioso conteúdo. Vejam de não perder as vossas raízes, pois elas vos ajudam a lembrar quem sois e de onde Cristo vos chamou. Ele vos tira dentre os homens para vos constituir em favor dos homens. Continuem sempre homens do povo e não se coloquem acima do povo.

Respondendo ao chamado de Deus vocês se tornam padres para servir os irmãos e irmãs. Contemplando Jesus Cristo rei do universo, nós vemos que ele é o Sumo


Sacerdote ao mesmo tempo próximo de Deus e próximo dos homens, é o servo que se faz próximo dos mais fracos, é o Bom pastor que sempre cuida do rebanho. Como
padres somos enviados a servir os homens, a levar-lhes a misericórdia do Pai, a anunciar a sua Palavra de vida.

Queridos Diáconos Daniel e Ederson, vós não sois ordenados sacerdotes para vós mesmos. Lembrem que a vossa santificação está estritamente ligada aquela do nosso povo, a vossa unção, à sua unção. Vós sereis ungidos para o vosso povo.

Nós padres somos constituídos para o povo. Lembrar isso nos ajuda a não pensar em nós mesmos, a não ser autoritários: firmes, mas não duros, alegres, mas não superficiais, em suma, pastores e não funcionários. “Onde tem misericórdia – diz Santo Ambrósio - tem o Espirito do Senhor, onde tem rigidez tem só os seus ministros. Mas o ministro sem o Senhor torna-se rígido”. O Senhor quer pastores e não funcionários.

Diz o Papa Francisco: “O Povo de Deus e a humanidade são os destinatários da missão dos sacerdotes. O padre nasce do povo e com o povo deve ficar. É padre sempre no meio dos homens, não um profissional da pastoral ou da evangelização que faz seu trabalho e depois leva uma vida separada, a sua vida. Nos tornamos padres para estar no meio do povo.  O bem que os padres podem fazer nasce sobretudo da sua proximidade e do carinhoso amor pelas pessoas. Os padres são pais e irmãos. A paternidade de um padre faz tanto bem”.

Queridos irmãos e irmãs, na véspera da abertura do Jubileu da Misericórdia do Pai, peço que rezem para que estes dois novos padres e todos nós padres da nossa Diocese de Castanhal, tenhamos entranhas de misericórdia e um olhar amoroso e bondoso para com todos, saibamos sempre acolher bem a todos, e nunca rejeitar a ninguém. Pois o amor de Deus se faz concreto através dos seus ministros e Ele nunca rejeita.
Que vocês, Daniel e Ederson, e nós padres, configurados sempre mais ao Senhor, sejamos padres segundo o coração do Senhor e não funcionários. Amém.


Dom Carlos Verzeletti
Bispo de Castanhal

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26 de maio de 2015

HOMILIA DA VIGILIA DE PENTECOSTES 2015

Querido Mons. Gabriel, meus caros padres, diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas, vós que sereis instituídos como Ministros da Palavra e Animadores das pequenas comunidades, os que nos acompanham pela TV Mãe de Deus e vós todos irmãos e irmãs,
Vindos de todas as paróquias de nossa Diocese e reunidos pela fé, nesta Grande Vigília de Pentecostes, esperamos e imploramos do Pai o dom do Espírito prometido por Jesus, para que, como água viva, jorre sem cessar em cada um de nós, nas nossas famílias, nas pequenas comunidades, nos movimentos e pastorais, nas paróquias de nossa diocese e no mundo inteiro.
São Lucas, autor dos atos dos Apóstolos nos fala do Pentecostes através de símbolos coloridos. O primeiro deles é a casa. “os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar... e um vento forte encheu a casa em que se encontravam”. Um grupo de homens e mulheres dentro de uma casa qualquer. A Igreja começou numa casa, num espaço limitado, com poucas pessoas. Em casa as pessoas que se conhecem, se relacionam, partilham a vida, as alegrias e as tristezas, se ajudam mutuamente, vivem a experiência do amor. É na casa que a pequena comunidade se encontra e cresce.
De uma igreja de massa, 
precisamos urgentemente 
passar para uma Igreja-família, 
recuperar a dimensão doméstica 
da vida cristã. A tão falada 
conversão pastoral de 
nossa Igreja passa pela 
setorização das nossas 
paróquias em pequenas 
comunidades eclesiais. 

Mas isso não é possível se não houver quem pastoreie, quem anime e coordene as pequenas comunidades. Foi por isso que em nossa 3ª Assembleia Diocesana nos comprometemos a cuidar da formação dos animadores, do seu acompanhamento e de sua avaliação. E aqui estão vocês, queridos animadores das pequenas comunidades fruto deste trabalho, prontos para animar, acompanhar, cuidar as pequenas comunidades existentes, fortificá-las, multiplicá-las e incentivar a sua criação nas periferias de nossas cidades, sobretudo lá onde a Igreja está ausente. E também vocês irmãos e irmãs, escolhidos para serem ministros da Palavra.
“Um vento forte encheu a casa onde se encontravam” (At 2,2). Jesus tinha prometido o dom do seu Espirito Santo. E chegou, naquele dia, como um vendaval sacudindo a casa, varrendo do coração dos discípulos o medo, o desânimo, a timidez, a acomodação, a tristeza. Também nós nesta noite pedimos que o Espírito purifique o coração da sua Igreja. Coloque verdade entre nós. Ensine-nos a reconhecer os nossos pecados e limitações. Nos recorde que somos como todos: frágeis, medíocres e pecadores. Liberte-nos da nossa arrogância e falsa segurança. Nos ajude a caminhar com mais verdade e humildade.
“Encheu a casa”. O Espírito enche a sua casa, a sua Igreja. Sem o Espírito a Igreja é uma casa apagada, fechada, opaca, triste, paralisada, sem vida, sem futuro, estéril, infecunda. Sem o Espírito Santo as nossas paróquias, comunidades, pastorais e movimentos e cada pequena comunidade são estruturas velhas, mortas, insignificantes, incapazes de levar as pessoas ao encontro com Cristo, de dar sentido as suas vidas, de reacender sua esperança e de levá-las a vivência do mandamento do amor.
“Encheu a casa”, quer dizer que encheu todos os que estavam naquela casa, que faziam parte daquela família, aquela célula inicial da Igreja. O Espírito encheu e dilatou aquela casa, aquele pequeno grupo, abriu os seus horizontes. E nós, nesta noite, pedimos que o Espírito Santo encha a nossa Igreja de Castanhal, dilate o coração do bispo, dos padres, diáconos, religiosos/as, de cada batizado, de todos os irmãos e irmãs que fazem parte das nossas pequenas comunidades, sobretudo encha o coração de cada animador, pois quem anima o animador é o próprio Espírito Santo.
O termo “animador” vem da palavra 
latina “anima”, que quer dizer “alma”; 
o animador é a alma da pequena comunidade. 

Não caiamos no equívoco de pensar que o bom animador é aquele que faz barulho, puxa um “flash-móvel” ou leva na onda do ôba-ôba uma multidão. Não! Um animador é de fato a alma de uma pequena comunidade quando se deixa animar e conduzir pelo Espírito Santo, por Ele introduzir na plena verdade e guiar a compreensão interior da Palavra de Jesus, quando se deixa ajudar a discernir entre o bem o e mal, e encontra nEle a fortaleza para perseverar no bem e vencer nas provações.
O bom animador sabe que é o Espírito Santo que desperta a nossa fé débil, pequena e vacilante. É Ele que nos ensina a viver confiando no amor insondável de Deus nosso Pai a todos os seus filhos e filhas, estejam dentro ou fora da tua Igreja.
Queridos animadores, a vossa primeira missão é ajudar os irmãos de sua pequena comunidade a encontrar Jesus, a descobrir a beleza do seu amor e isso só é possível graças ao Espírito Santo. Lembrem que nem o Bispo, nem os padres, nem o animador são o centro da Igreja. O centro da Igreja, o centro da pequena comunidade é Jesus. Que nada nem ninguém O suplante nem O obscureça. Que o Espírito Santo nos atraia para o Evangelho de Jesus, nos dê a graça de converter-nos para segui-lo. Que não fujamos da sua Palavra, nem nos desviemos do seu mandato de amor. Que não se perca no mundo a sua memória. Mais intensa e profunda for nossa relação de amor com Jesus, através da vida em comunidade, da sua Palavra, dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia e dos pobres, mais atrativo e autêntico será nosso testemunho.
“E apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles” (At 2, 3). O fogo é símbolo de Deus e da nossa vida acendida, abrasada e iluminada por Ele e pelo seu amor. Um fogo que com a força do vendaval se reparte, se espalha e alcança a todos, chega à alma de todos, se faz presença amorosa em todos.
Queridos animadores, a vossa missão é a de saber reconhecer em cada irmão e irmã a presença e a ação do Espírito de Jesus, levando cada um a partilhar os dons de Deus com os outros. Vocês animam a pequena comunidade não quando vocês fazem tudo, mas quando sabem valorizar o dom e a diversidade de cada um e integrá-lo na harmonia da comunidade.
“E começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia expressar-se” (At 2,4). Que bonito encontrar irmãos que abrem seus ouvidos ao Espírito, escutam os seus chamamentos, e quando falam de Deus seus olhos brilham, sua voz embaça, com espontaneidade animam, encorajam, confortam, e contam o Evangelho com simplicidade ajudando os irmãos a perceber, mesmo nos sofrimentos, conflitos e contradições, a presença viva e amorosa de Deus.
O que aconteceu no dia de Pentecostes foi além daquelas paredes daquela casa, transbordou, invadiu a praça de Jerusalém, atraindo gente dos quatro cantos do mundo. O Espírito não pode ser contido, guardado, encaixotado. Da mesma forma quem recebe o Espírito é lançado para fora, na praça do mundo. As nossas pequenas comunidades serão Igrejas autênticas se não se fecharem em si mesmas, se estiverem de portas abertas para acolher a todos, e sempre com o pé na estrada, prontas para ir ao encontro de todos. Cuidado em não tornar nossas comunidades um ninho protetor da nossa mediocridade, ou esconderijos de nosso intimismo. 

A comunidade de Jerusalém 
com o dom do Espírito nasce 
missionária. O Espírito só 
gera comunidades missionárias, 
nos torna livres e criativos, nos 
lança para fora no mar da história 
para descobrir, quanto mais 
navegamos novos mares: nós 
somos a vela e Ele o vento.
Se as nossas comunidades não forem missionárias não são obra do Espírito, não levam a nada. São missionárias somente se forem fecundas, se crescerem e se multiplicarem e atrair para Cristo novos irmãos, se cada membro da pequena comunidade tiver consciência de ser missionário e viver ativamente a missão, cuidando, acompanhando e rezando pelo menos por um irmão afastado, um parente, um amigo, um vizinho, um colega de trabalho, em fim, se com alegria, partilhar com eles sua fé e sua experiência do amor de Deus que salva.
E nós, bispo, padres, diáconos, ministros da Palavra, animadores das pequenas comunidades e cada batizado somos chamados – como nos repete insistentemente o papa Francisco, a irmos ao encontro das pessoas, “acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa, levanta o seu próximo... capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão, sem perder-se... de sair de si, de ir ao encontro de quem não frequenta a Igreja, de quem a abandonou ou lhe é indiferente” (Papa Francisco 19 de agosto 2013), para anunciar-lhes, “as maravilhas de Deus” (At2,11): o seu infinito amor (do Senhor) que salva e a sua eterna misericórdia.
Que o Espírito Santo 
nos ensine a olhar de 
forma nova a vida, 
o mundo e, sobretudo, 
as pessoas. 

Que aprendamos a olhar como Jesus olhava aos que sofrem, aos que choram, aos que caem, aos que vivem sós e esquecidos. Se mudar o nosso olhar, mudará também o coração e o rosto da sua e da nossa Igreja. Se nos esforçarmos a ser autênticos discípulos de Jesus, irradiaremos melhor a sua proximidade, a sua compreensão e solidariedade para com os mais necessitados. Iremos parecer-nos mais ao nosso Mestre e Senhor.
Celebrando os 10 anos de nossa Diocese, ainda muito comovidos pela santa partida ao céu do nosso querido e amado Pai, Dom Vicente Zico, pedimos que ele interceda por nós junto de Jesus por nossa Diocese, invoque sobre nós o Espírito Santo para que fortaleça nossos padres e diáconos, ilumine os ministros da Palavra, sustente os passos dos animadores das pequenas comunidades, para que estas sejam mais felizes, alegres, em paz e acolhedoras. Torne os animadores, discípulos missionários que acompanham discípulos missionários. Faça de nós uma Igreja de portas abertas, coração compassivo e esperança contagiosa. Que nada nem ninguém nos distraia ou desvie do projeto de Jesus: fazer um mundo mais justo e digno, mais amável e ditoso, abrindo caminhos ao Reino de Deus. Amém.
+ Carlos Verzeletti
Bispo de castanhal


Castanhal, 23 de maio de 2015 - Vigília de Pentecostes


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2 de abril de 2015

HOMILIA DA MISSA CRISMAL 2015


Catedral de Castanhal

Querido Mons Gabriel,
Caros padres, diáconos, religiosas e seminaristas,
Irmãs e irmãos todos aqui presentes ou que nos acompanham pela TV Mãe de Deus,
Encontramo-nos hoje em nossa Catedral para celebrar a X Missa Crismal de nossa diocese com o proposito de rezar pelos nossos padres que renovam hoje suas promessas sacerdotais e se propõem viver em plenitude seu ministério sacerdotal, seguindo e imitando Cristo, Bom Pastor.
A quinta feira santa, dia sacerdotal por excelência começa no Cenáculo, entra no Getsemani e desemboca no Calvário. É nestes espaços que Jesus vive mais intensamente seu sacerdócio e é neles que também nós padres somos chamados a viver nosso ministério sacerdotal. A autenticidade e a verdade do nosso sacerdócio dependem da capacidade de nos abaixar para servir, da escolha de obedecer à vontade de Deus sem condições ou reservas e da promessa de partilhar com Jesus a morte na cruz.
1. O Cenáculo, a sala do andar de cima, onde Jesus dá o seu corpo, aparece Ressuscitado, onde os onze estão com Maria em oração na espera do Espírito, onde a comunidade se encontra para escutar a Palavra, partir o pão, celebrar a eucaristia e rezar, onde começa e chega toda missão. Esta sala do andar de cima é o nosso próprio coração de padre no qual a cada manhã precisamos voltar para crescer na experiência do encontro pessoal com Cristo, para compreender a amplidão, a largueza, a altura e a profundidade do seu amor; onde eu sinto que Ele vive em mim e me chama a permanecer nele. É aqui que chegando tantas vezes perturbado e cansado, na sua presença encontro consolo e luz, confiança, alegria e paz, força e liberdade de amar. Aqui renovo o meu “eis-me aqui!” e, refeito, parto de novo, para missão. Queridos padres, como nós poderemos ajudar as pessoas a fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus se não alimentamos diariamente nosso amor por ele?
No Cenáculo Jesus institui a eucaristia e o sacerdócio, lava os pés dos seus discípulos, e nos ensina o mandamento do amor e da unidade. Na eucaristia Jesus doa a si mesmo, une-se a nós e se faz nossa vida. Pede-nos de fazer memória dele, de viver hoje do seu dom, de fazer do seu amor crucificado a nossa vida, de amar como ele nos amou. Jesus pede-nos que a Eucaristia seja a alma da nossa vida sacerdotal de modo que nos tornamos padres eucarísticos, padres que vivem o que celebram, nos tornamos pão partido, vida doada e vivemos nossas relações cotidianas no serviço recíproco. A vivência da eucarística e do serviço nos cura da tentação de considerarmos donos dos outros ou únicos depositários da vontade de Deus, prontos a escutar o nosso povo e valorizar o sentido da fé presente nele.
No Cenáculo, Jesus nos deixa o mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12) isto é, com o mesmo amor com o qual eu vos amei. Nós amamos somente se nos sentimos amados: podemos amar porque ele primeiro nos amou. O seu amor por nós é fonte do nosso amor recíproco. O amor vive de reciprocidade. A comunidade não se fecha em si, se abre a todos os homens. O sinal de reconhecimento claro que somos da família de Jesus é o amor recíproco, aberto a todos começando pelos inimigos. O amor fraterno torna presente o próprio Deus, revela a sua glória, atrai a si os irmãos.
Em nossa 3ª Assembleia Diocesana, conscientes que na grande comunidade a pessoa vive no anonimato, não é valorizada e reconhecida e não tem condição de experimentar a fraternidade por falta de vínculos humanos e sociais, nos comprometemos a trabalhar para setorizar as nossas paróquias e comunidades em grupos menores, “em pequenas comunidades, formadas por um pequeno grupo de pessoas (do tamanho do grupo de Jesus), no qual as pessoas se conhecem, partilham a vida e cuidam-se uns dos outros, como discípulos missionários”(CNBB 100 - n. 246). Pequenas comunidades animadas pela Palavra, unidas na oração e na comunhão fraterna, “solidarias, servidoras e missionarias, que anunciam e sabem ouvir, que lutam por dignidade, por justiça e igualdade” (Canto CF 2015). “O amor fraterno, a amizade e a caridade com todos são os aspectos irrenunciáveis de uma comunidade cristã. Testemunhando o amor fraterno as nossas comunidades serão missionarias” (n.260)
O Cenáculo nos convida a colocar em prática o lava-pés. Ser cristão, e por isso também ser padre, ser diácono, é em primeiro lugar seguir o Redentor que assume a forma do serviço, o servo de Jahweh, que no lava-pés nos deu o exemplo de como também nós devemos reciprocamente nos comportar. “Não vim para ser servido mas para servir” (Mc 10,45). “Quem quiser ser o primeiro, seja o último e servo de todos”(Mc 9,35). Servir é diminuir a nós mesmos fazendo-nos samaritanos, carregando sobre nós a vida dos nossos irmãos, especialmente dos que mais sofrem.
2. Quinta feira Santa lembra a noite do Getsêmani, quando Jesus experimentou a solidão e o abandono dos amigos, a angustia e o medo da morte e, tentado de abandonar o projeto do Pai, viveu seu sacerdócio aceitando beber o cálice da obediência até o fim: “Ó Pai, não a minha, mas a tua vontade” (Lc 22,42). 
Também nós padres subimos o Monte das Oliveiras e entramos no Getsêmani, e como Pedro, Tiago e João às vezes deixamos de vigiar. “A falta de vigilância – diz o Papa Francisco - torna morno o pastor; o faz distraído, esquecido e até insatisfeito, o seduz com a lisonja do dinheiro e os compromissos com o espírito do mundo, o transforma num funcionário mais preocupado de si que do verdadeiro bem do povo de Deus” ( Homilia 23 maio 2013). Desta forma chega também para nós padres a hora da tentação, da fragilidade, do medo, da infidelidade e da traição. Quando não somos compreendidos e apreciados, quando falta o apoio dos amigos e os pesos parecem insuportáveis, quando não vigiamos sobre nós mesmos e os nossos sentimentos, chega então a tentação de reduzir os ideais e de encontrar um nível de mediocridade que salve as aparências e preserve a nossa imagem. Chega então a tentação de pensarmos que podemos seguir o Senhor só parcialmente ou a tempo limitado, tirando de vez em quando umas folgas, sem deixar que os conselhos evangélicos perpassem todas as dimensões da nossa vida – a sexualidade, a posse, o poder.
Se nestas horas nos lembramos do amor fiel do Senhor e de tudo o que ele fez por nós, curados pelo seu amor, conseguimos superar, vencer e nos salvar. É balsamo que cura e sara nossas feridas a lembrança do entusiasmo do primeiro encontro com Jesus, quando encantados pelo seu amor, deixamos tudo para segui-lo e no dia de nossa ordenação, prostrados no chão a ele nos entregamos definitivamente e por ele fomos ungidos e consagrados. Então lembramo-nos e tomamos consciência que somos sacramento de Cristo e o somos apesar de nossas fraquezas. Se Cristo é de verdade digno de ser seguido, devemos segui-lo com todas as energias e por toda a vida até o fim, fazendo nossa a obediência de Jesus: “Pai, não a minha, mas a tua vontade” (Lc 22,42).
Sabemos que o nosso primeiro “sim” a Deus exige tantos outros “sim” cotidianos para continuar na fidelidade o caminho de consagração: o “sim” a oração pessoal e a Liturgia das Horas, o “sim” a uma celebração da S. Missa que seja curada e interiormente preparada, nunca banalizada ou reduzida a mero rito, o “sim” a leitura orante da Palavra de Deus, que é sempre Palavra viva e nova, o “sim” ao sacramento da reconciliação, a ser administrado aos outros ou recebido por nós, o sim ao nosso Celibato que cultivamos estando na presença amorosa do Senhor, o “sim” ao silêncio para a minha alma, saindo dos barulhos e distrações de celular e internet para unir-me ao meu Deus, o “sim” ao meu bispo e a minha “família sacerdotal”, o presbitério, participando afetiva e efetivamente de todos os momentos de espiritualidade e de formação, e assumindo com entusiasmo e espírito de profunda comunhão o plano de pastoral de nossa diocese. E junto com estes “sim” cuidaremos também das nossas fragilidades que o seguimento não apaga com uma mágica, e descobriremos que elas serão motivos de humildade e impedimento para a nossa autossuficiência.
3. Como sacerdotes, somos chamados a seguir Jesus até o fim, subindo com ele o Calvário. Lá, ele crucificado e morto revela quem é Deus e quem é o homem e une ambos num único amor. Jesus crucificado é o sim de Deus ao homem mais distante e amaldiçoado e ao mesmo tempo é o sim a Deus do homem mais distante e amaldiçoado. No Calvário vemos de fato que a Vida morre, a Palavra cala-se, o Primeiro se faz o ultimo, o Senhor se torna escravo, o madeiro vira trono, o Juiz é julgado, o Justo é justiçado, o Salvador se perde, o Bendito é amaldiçoado, o Santo se faz pecado. Na cruz, Deus, abandonando a si mesmo para fazer-se em tudo semelhante a nós, nos mostra que o amor é mais forte do que a morte.
No Calvário Jesus revela completamente o seu sacerdócio e o realiza no sacrifício de si na cruz, entregando-nos o seu Espirito, o Espirito de amor. Lá no Calvário, na noite da cruz, brota o ministério sacerdotal. Lá no Calvário nós sacerdotes somos chamados a participar da obra redentora de Cristo fazendo de nossa vida uma entrega total de nós mesmos, comprometendo-nos com toda a nossa pessoa na sua missão. Como Jesus, Deus imolado, a nossa existência sacerdotal se dá despojando-nos completamente de nós mesmos e colocando-nos a disposição do Senhor e dos irmãos. A nossa só é vida de padre se for vida de amor. E nós subimos o Calvário somente se amamos de verdade o Senhor. O amor é a única força que mantem nós padres firmes lá onde devemos estar, isto é, debaixo da cruz.
Ser padre significa fazer-se humildemente cargo do lixo dos outros, dar tudo, seguir Jesus sem condições, estar unidos a Ele na sua vida e na sua morte, ser crucificados com Ele. Ele humilhou-se no seu sacerdócio e se fez obediente até a morte assumindo sobre si, em lugar dos pecadores a humilhação extrema. A humildade que brilhou no sacerdócio de Cristo na cruz, deve brilhar também em nós que na Igreja temos a missão de presidir. Presidir não com autoritarismo e aspereza, mas com o cuidado amoroso que cada homem, tesouro de Deus, merece.
Caros Padres, não esqueçamos que o óleo do santo crisma com o qual fomos ungidos no dia de nossa ordenação sacerdotal não foi — como diz o papa Francisco - para perfumar a nós mesmos e tampouco para guardá-lo num vidro porque o óleo se tornaria rançoso e o coração amargo, mas para irmos e servirmos os pobres, os presos, os doentes, os que andam tristes e abandonados.
Nós sacerdotes, escolhidos, consagrados e enviados com o dom do Espirito de vida, somos convidados por Jesus a descer nos lugares de sofrimento e de solidão, de fraqueza e de cansaço, descer nas trevas que envolvem casais e famílias inteiras, descer nas crateras provocadas pelas violências, divisões e injustiças, descer lá onde se apagou a vontade de viver e esperar. Descer e curvar-nos sobre os caídos e esmagados. E levantá-los, carrega-los, escutá-los, curá-los, abraça-los, amá-los, dando-nos e entregando-nos a eles, anunciando-lhes com a vida o amor e a misericórdia do Senhor que tudo perdoa, renova, ilumina e salva.
Obediente a Deus através da Igreja, exigente antes de tudo consigo mesmo, para zelar sua vocação e seu ministério, instrumento da terna proximidade de Deus aos homens, consciente de ser sempre ao mesmo tempo pastor e discípulo: assim rezamos que possa viver o seu ministério cada sacerdote hoje, de modo particular nós que somos e servimos esta Igreja Castanhalense, alegres também nas adversidades, conscientes de ser um dom do amor de Deus, feito a Igreja e a sociedade inteira para contagiá-la com a alegria do Evangelho.
Maria, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote e Mãe de todos os sacerdotes, abençoe e acompanhe com sua proteção e carinho maternais nossos sacerdotes, nossos diáconos e toda a nossa Diocese. Amém.
Castanhal, 01 de abril de 2015
Dom Carlos Verzeletti
Bispo de Castanhal

30 de dezembro de 2014

Campanha contra a fome

O Papa chama a atenção do mundo para "o escândalo mundial" da morte por fome.

Papa Francisco no dia 09 de dezembro lançou a campanha da Caritas contra a fome, Chamou atenção para uma situação planetária que não é tolerável: o fato de que quase um bilhão de pessoas no mundo estão desnutridas ou passam fome não é uma questão de má sorte ou de destino, é uma questão de escolhas e de responsabilidades.

A fome certamente não é um tema novo para o mundo católico e para os papas, mas é nova a atitude que emerge das palavras de papa Francisco: "Não podemos virar a cabeça para o outro lado e fingir que isso não existe. (…) Convido a todos nós a nos tornarmos mais conscientes das nossas escolhas alimentares que muitas vezes envolvem desperdício de alimentos e mau uso dos recursos à nossa disposição".

A fome não é um acidente da história, mas sim um produto funcional ao sistema alimentar e produtivo em que cada um de nós desempenha um papel e tem uma parte. Francisco diz claramente que nós, com o nosso estilo de vida, somos parte do problema e não só da solução.

Em uma passagem da sua mensagem,  Papa Francisco diz: "Os alimentos bastariam para saciar a todos", e, "se houver vontade, o que temos não acaba". Esse é o ponto, a fome é uma vergonha solucionável, que pode ser apagada da história em tempos razoáveis. Falta vontade política, e nós, cidadãos, associações, organizações, partidos, movimentos, devemos ser a massa crítica que põe o processo em movimento.

Para o povo judeu, as duas calamidades por excelência eram a fome e a escravidão. Pois bem, para derrotar definitivamente a escravidão, ao menos a legalizada, tivemos que esperar séculos e até atravessamos períodos em que a humanidade viveu contradições evidentes sem pestanejar.
A fome está seguindo um percurso semelhante. Francisco fala do "direito dado por Deus a todos de ter acesso a uma alimentação adequada".

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, diz-se que "toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação...", enquanto na Declaração de Roma sobre Segurança Alimentar Mundial de 1996 dá-se um pouco a mais afirmando: "... o direito de toda pessoa a ter acesso a alimentos sadios e nutritivos, de acordo com o direito a uma alimentação apropriada e com o direito fundamental de todo ser humano de não passar fome". 

Ninguém põe em discussão essas formulações, mas todos nós convivemos com a consciência da existência de um bilhão de desnutridos.  (abrir uma janela para esta parte em verde)

A sua mensagem é uma solicitação moral extraordinária e deveria ser inserida em um debate político que parece ter esquecido a centralidade dos alimentos. O objetivo da derrota da fome deve ser assumido como prioritário por cada um de nós, não só por fraternidade universal, mas também pelo próprio bem-estar pessoal. Não podemos ser felizes se os outros também não o são, razão pela qual até que não se consiga apagar essa vergonha não poderemos nos dizer completamente realizados. Se uma fatia tão grande da "grande família humana" não tem acesso aos alimentos, isso significa que nós não estamos cumprindo o nosso dever de irmãos.

O pontífice fala da importância dos alimentos na mensagem cristã e dá o exemplo da parábola da multiplicação dos pães e dos peixes. Naquela ocasião, posto a par da multidão de pessoas famintas que acorreram para ouvi-lo, Jesus não hesita e manda imediatamente os seus discípulos a buscar comida para todos. Eis o ponto: sem comida, não há palavra de salvação que se sustente.

Hoje, é impensável imaginar futuros possíveis, saídas da crise mundial, novos paradigmas de convivência, se um bilhão de pessoas não comem. Por isso, a mensagem de Francisco é uma mensagem de libertação.

Esse sistema alimentar mostra a cada dia os seus lados obscuros, a partir de qualquer ponto de vista que se olhe para ele. Aos mortos por fome, se contrapõem os obesos; aos desnutridos, os hipernutridos, com a diferença de que os famintos e os desnutridos não são artífices das próprias escolhas alimentares, mas sofrem a violência do sistema.

Como?
Individualmente
A base para qualquer mudança real vem de dentro de nós em primeiro lugar, e na nossa capacidade de ver o rosto de Cristo naqueles que sofrem de fome. Quando começamos a olhar para dentro de nós mesmos e refletimos sobre as questões em torno da fome, tanto no nosso país quanto fora, podemos perceber que somente trabalhando como uma única família em um espírito de compaixão e de unidade é que nós podemos finalmente pôr fim a uma grave injustiça: há comida suficiente no mundo e mesmo assim milhões de pessoas ainda sofrem com a fome.

Por quê?
A alimentação é essencial para viver dignamente. É também algo central para a fé Cristã, começando no ato da transformação do pão no corpo de Cristo, compartilhado com os fiéis durante a celebração da Eucaristia. O primeiro Objetivo do Desenvolvimento do Milênio é eliminar a fome e a pobreza até 2015. Como já estamos chegando a essa data, a confederação Cáritas quer colocar seu poder coletivo e boa vontade e juntar-se com outros a fim de contribuir para o processo de desenvolvimento pós-2015 e por fim ao sofrimento de milhões de pessoas famintas no mundo.

Dom Carlos Verzeleti
Bispo Diocesano


HOMILIA DA FESTA DA SACRAGA FAMILIA


CELEBRANDO OS 10 ANOS DE CRIAÇÃO DA NOSSA DIOCESE DE CASTANHAL

Catedral de Castanhal, 28 de dezembro de 2014, às 19 hs


Amanhã se completam 10 anos da criação de nossa diocese. No dia 29 de dezembro de 2004, ultima quarta feira daquele ano, no Colégio São José de Castanhal, Dom Orani J. Tempesta, na minha e na presença de Mons. Marcelino Gonçalves Ferreira e dos padres que naquele ano cuidavam das paroquias do interior da Arquidiocese de Belém, tornou publica a noticia da criação da nova Diocese de Castanhal e da nomeação deste vosso pastor como seu primeiro bispo diocesano. 
Para refletir sobre os 10 anos de nossa diocese deixo-me conduzir pelo Evangelho de Lucas 2 que acabamos de ouvir.
“Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor” (Lc 2,22).Maria e José conscientes que o Filho que receberam é dom de Deus, o entregam e consagram ao Senhor. Também nós, como eles, temos plena consciência que a nossa diocese de Castanhal é dom de Deus. E hoje, lembrando aquele começo, estamos aqui para oferecer e consagrar ao Senhorcada um de nós, nossa família e, sobretudo,a Igreja de Castanhal que nós somos, do jeito que nós somos, com nossas fraquezas e imperfeições, nossas infidelidadese contra testemunhos, mas também com tudo o que o Senhor fez de belo e bom  em nós e através de nós, em nossas famílias, comunidades e paroquias, em toda a nossa diocese ao longo destes 10 anos, desde os primeiros passinhos até os últimos acontecimentos pessoais e eclesiais destes dias.
O trabalho, a determinação e o compromisso de alicerçar e construir nossa Igreja Local sobre a Palavra de Deus, a Missão, a Comunhão, a Caridade, a Eucaristia, a Iniciação à Vida Cristã, as Pequenas comunidades,os grupos de Lectio Divina; as três Assembleias Diocesanas de Pastoral; o  surgimento e crescimento das pastorais e serviços, a fundação do nosso Seminário Diocesano São João Paulo II, as ordenações sacerdotais e diaconais, a presença e a doação entre nós dos padres fiei-donum de Brescia, de Milão, de Brasília, de São Paulo, a criação das duas novas paroquias, a construção e dedicação da nossa Catedral e a construção de tantas igrejas em toda a diocese, a organização e o serviço da Cúria diocesana, os inúmeros encontros de formação a nível paroquial e diocesano, as Semanas de Lectio Divina,  as duas Visitas Pastorais, a Adoração Eucarística Perpetua, a Mesa da Caridade e a Casa de Acolhida Beata Madre Teresa de Calcutá, as comunidades terapêuticas da Ressurreição e da SS. Trindade e nestes últimos meses, três novas comunidades religiosas e a benção do grande mosaico de nossa catedral.
Conscientes que é o Senhor que faz a Igreja, que a sustenta, a alimenta, a purifica,  a santifica,a mantem unida e fiel,nos consagramos a Ele, nos colocamos, hoje, em suas mãos para que nos converta, nos purifique, nos renove, nos liberte da tentação da acomodação, do medo de avançar para aguas mais profundas, do mundanismo e do conformismo às modas passageiras, e nos faça voltar ao primeiro amor, reavivando nossa fé, esperança e caridade.
Nós, Diocese de Castanhal, precisamos de um coração positivo, aberto, dilatado e entusiasta juvenil como o de “Simeão, que  esperava a consolação do povo de Israel – acreditava que - não morreria antes de ver o Messias” (Lc 2, 25). Quando falta a esperança, quando  o desanimo,  a lamentação e o derrotismo tomam conta estamos enterrando nossa fé, nossa vida cristã, acabamos com nossa missão e nossa Igreja. Dez anos depois da criação de nossa diocese, digo a mim mesmo, aos meus padres, as religiosas, a você que me escuta, a cada batizado leigo, a cada criança, jovem, adulto e idoso, a cada casal: “Animo!  Animo! Coragem! Coragem! Esperança, muita esperança!
Sabemos quanto trabalho, esforço e  dedicação estas atitudes necessitam  para acontecer.  Não são coisas baratas. Exigem a nossa perseverança contra toda manifestação contraria. Exigem um alto custo, o encontro continuo com o Senhor, uma intensa vida de oração, de escuta de sua Palavra, de atento discernimento dos fatos da nossa vida pessoal, familiar, social e eclesial, de entrosamento e participação ativa na vida da Igreja. Sejamos, pois, uma Diocese que vive com esperança, que transmite coragem, que se deixa animar pelo Espirito de Jesus.

“Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus” (Lc 2,28). Simeão encontra, em fim,  o Senhor que tanto esperou.  Esta é a maior graça que uma pessoa pode alcançar:  encontrar o Senhor. Recebê-lo em seus braços.
Como Simeão, tomemos o Menino em nossos braços. O que de mais precioso a Igreja tem é Jesus! Ele é a perola preciosa,o tesouro que nos é dado. Mas eu pergunto: Que Igreja somos?  Acolhemos Jesus em nossa vida? Ele nos encontra abertos, atentos, disponíveis, para escutá-lo e segui-lo? Cultivamos a amizade com Ele? Damos-lhe tempo, atenção e carinho na oração, na adoração, na eucaristia dominical? O reconhecemos e acolhemos nos pobres e nos pequenos?Lembremos que não podemos dar o que não temos.

Simeão com o Menino nos braços bendisse a Deus. Olhando para trás, para estes 10 anos de caminhada de nossa Diocese de Castanhal temos muito para bendizer, agradecer e louvar a Deus.  Cada um, pessoalmente, cada família, cada comunidade, paroquia, cada pastoral, movimento e serviço, vai encontrar em sua memoria inúmeros motivos para agradecer o Senhor.
Valeu a criação da nossa Diocese?  Foi de fato, e é, umabenção de Deus?
Claro que foi!
Por isso é justo e necessário, é nosso dever e nossa salvação  louvar e bendizer o Senhor por ter confiado a nós frágeis e pecadores a sua Igreja e a missão de torna-lo presente com nosso testemunho.
Agradece-lo pela sua infinita paciência e misericórdia, pela sua divina Providencia que sempre proporcionou os recursos humanos e materiais necessários para o nosso trabalho de evangelização.
Agradecer o Senhor pela ação pastoral de nossos padres e diáconos, que como colaboradores do bispo, tornam Jesus Servo e Pastor presente em todas as comunidades e paroquias, animando-as, coordenando-as e santificando-as com sua dedicação, desprendimento e serviço.
Agradece-lo pelo trabalho incansável, escondido ehumilde dos leigos que vivem o Evangelho com paixão;amam, servem e cuidam com alegria dos irmãos e irmãs de suas comunidades;pelos nossos seminaristas e vocacionados; pela presença abençoada e confortadora das nossas religiosas.
Agradece-lo por Dom Vicente J. Zico que, iluminado pelo Espirito de Jesus, trabalhou para a criação da nossa Igreja Local. Agradece-lo também por tantos amigos e benfeitores daqui e da Italia que com generosidade nos apoiaram ao longo destes 10 anos.

Sem Jesus não há Igreja. É por causa dEle que Ela existe. Assim entendemos que a nossa Diocese de Castanhal foi criada exatamente com esta única finalidade, levar Jesus a cada pessoa, ajudar cada irmão e irmã a encontrar-se pessoalmente com Ele, na sua Igreja.
Jesus, como diz Simeão, é “Luz para iluminar as nações” (Lc 2, 32). Por isso não podermos prendê-lo, escondê-lo  e guarda-lo para nós. A Igreja iluminada por Cristo existe para iluminar a todos, para fazer resplandecer esta luz, sem excluir ninguém.
Nossa diocese reflete a luz de Cristo? Brilha com força, iluminaa vida pessoal e familiar, orienta a ação cultural, social, politica e econômicado povo do Nordeste Paraense, suas lutas e sua caminhada? Nós levamos esta luz ,chegamos lá onde a noite, o desespero, a angustia são mais escuros, onde parece que não tem mais jeito? Esta é a nossa missão, a missão de nossa diocese.

“Este menino vai ser causa tanto de queda como reerguimento para muitos... será um sinal de contradição” (Lc 2,34). De queda para quem o rejeita, de salvação para quem acredita nele e se deixa amar por Ele. Como o Mestre, assim também a Igreja é um sinal de contradição. Para atrair mais gentee agradar a todos não podemos encurtar as exigências do Evangelho, nem compactuar com o dinheiro, o poder, o prestigio.  Quando em nossa ação pastoral, experimentamos a rejeição, o desprezo, a indiferença, a ridicularização da fé, é então que devemos ter cuidado para não trair nosso Senhor que se fez pobre, ultimo, servo de todos, perseguido e morto. O levantamento da Visita Pastoralque terminei a poucos dias, mostra que aumentou a numero dos que não si consideram mais católicos, que se declaram sem religião e dizem  que tudo isso é crendice, mito, fabula. Diante disso nos perguntamos se essa rejeição foi provocada pelo nosso contratestemunho, pelos escândalos dentro da Igreja, por sermos católicos por tradição e não por convicção profunda. Abaixamos a cabeça e pedimos perdão. Mas não podemos silenciar  e nos alegrar ao ver que ao longo destes anos, muitos católicos estão mais conscientes da beleza e da importância de sua fé, mais atuantes e comprometidos em suas comunidades. Conhecemos muitas pessoas que tocadas pela Palavra do Evangelho, atraídas pelo testemunho simples e alegre dos irmãos despertaram para a fé, acolheram a pessoa de Jesus, voltaram para Ele, se integraram na comunidade cristã, e agora com alegria e orgulho se sentem parte da família de Jesus.
“Simeão disse a Maria, a mãe de Jesus: uma espada te traspassará a alma”(Lc 2, 35). A lança que traspassa a alma da Mãe de Jesus, e que traspassa também a alma da nossa Igreja da qual Maria é imagem, é o nosso pecado. São ospecados destes 10 anos de caminhada. Os meus pecados de bispo, os pecados dos padres, diáconos, religiosos/as, os pecados de cada esposo e esposa, de cada cristão. Ha matéria para um longo exame de consciência. De fato os maiores obstáculos  e dificuldades da Igreja surgem dentro dela, provocados por nós mesmos. Pela nossa falta de autenticidade, de fidelidade e de unidade. O mundanismo, o consumismo, o individualismo nos devoram, nos afastam do Evangelho, matam o Espirito e nos deixam sem força para nada. Sem esconder nossa fraqueza e conscientes que, aonde abundou o pecado superabundou a graça, clamamos ao Pai da Misericórdia: “Tende compaixão da tua Igreja, perdoa seus pecados, não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”. Que este ano jubilar seja a ocasião para uma verdadeira conversão pessoal e pastoral provocada e sustentada pela ação do Espirito de Jesus a quem invocamos: “Tu que renovas todas as coisas, faze que hoje nos tornemos novos contigo”.
“Ana pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (Lc 2,38). Nossa Diocese, como Ana, precisa lançar-se com mais ousadia e liberdade para evangelizar  nossas cidades, vilas e povoados,  as periferias existenciais e geográficas,  os lugares de trabalho,nossos jovens e nossas famílias, indo ao seu encontro,encarando seus desafios, mostrando Jesus a todos com nossa vida, anunciando e testemunhando a alegria do Evangelho.  O Espirito de Jesus convoca todos nós, bispo, padres, religiosas e leigos para a missão permanente, sem excluir ninguém. Pois a missão não depende da idade, dos estudos, do dinheiro, da propaganda, da chuva o do sol, mas unicamente de um coração abrasado, encantado, apaixonado, enamorado, louco por Jesus. Que Ana, esta mulher viúva com 84 anos, apóstola e evangelizadora que se manda pelos quatro cantos da cidade querendo partilhar com todos a graça de ter encontrado Jesus, o Esperado, o Amado do seu coração, o Salvador, seja de exemplo para todos nós. Que eu e você, que todos nós, Diocese de Castanhal nos lancemos, pois para a missão. Missão feita com os pés dos que partem, com os joelhos dos que rezam, com as mãos dos que ajudam.
“O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.” (Lc 2, 40). Um Igreja que se torna forte, cresce em sabedoria e graça. Como nos lembra São Paulo: “É de Cristo cabeça que o corpo todo recebe coesão e harmonia, mediante toda sorte de articulações e, assim, realiza o seu crescimento, construindo-se no amor, graçasà atuação devida de cada membro” (Ef 4,16). O crescimento da nossa igreja dependerá da atuação de cada membro e sobretudo da sabia atuação de nós pastores. Se sairmos de nós mesmos e atendermos o mandato de Jesus de ir e anunciar o Evangelho a todos, se acreditarmos no poder da Palavra que cresce, do pequeno grupo que se multiplica, incorporando cada pessoa de tal forma que se torne um discípulo de Cristo, alguém consciente de sua fé e missão,e assumirmos as diretrizes de nossa ultima Assembleia diocesana, então a Igreja crescerá e através dela, Cristo Jesus ficará conhecido, amado por todos.
Se como no belíssimo mosaico da abside de nossa catedral, sentirmo-nos parte de um todo, sem diminuir o valor de ninguém, e sim valorizando os dons de cada um, então experimentaremos a harmonia, a beleza, o encanto, a alegria de sermos a Igreja amada de Jesus, obra prima do seu Espirito.
Que Deus nosso Pai, pela intercessão de Santa Maria, Mãe de Deus, nossa Padroeira,abençoe nossa Diocese que completa seu decimo aniversario de criação, cumulando-a com todas as suas benções. Amém!


Dom Carlos Verzeletti

Bispo Diocesano de Castanhal

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7 de julho de 2014

"Vinde a mim" - Reflexão sobre o Evangelho do Papa Francisco

Reflexão do Papa Francisco sobre o Evangelho de domingo – 6 de julho.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho deste domingo encontramos o convite de Jesus, que diz: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Quando Jesus diz isso, ele tem diante de seus olhos as pessoas que encontra todos os dias nas ruas da Galiléia: pessoas simples, pobres, doentes, pecadores, marginalizados ... essas pessoas sempre o procuravam para ouvir a sua palavra – palavra que dava esperança! As palavras de Jesus sempre dão esperança! – E também para tocar a orla de seu manto. Jesus mesmo buscava essas multidões aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,35-36), e os buscava para anunciar o Reino de Deus e curar muitos no corpo e no espírito. Ele chama todos para si: "Vinde a mim", e promete-lhes alívio e refrigério.
Este convite de Jesus se estende até os dias atuais, para chegar a muitos irmãos e irmãs oprimidos por condições de vida precária, por situações existenciais  difíceis e, as vezes, sem pontos de referência. Nos países mais pobres, mas também nas periferias dos países mais ricos, há muitas pessoas aflitas e desamparadas sob o peso insuportável do abandono e da indiferença. Indiferença: quão ruim é para os necessitados a indiferença humana! E pior, a indiferença dos cristãos! As margens da sociedade há muitos homens e mulheres provados pela indigência, mas também pela insatisfação da vida e frustrações. Muitos são forçados a emigrar da própria pátria, arriscando a própria vida. Muitos carregam o peso de um sistema econômico que explora o homem, impõe um "jugo" insuportável, que os poucos privilegiados não querem levar. A cada um desses filhos do Pai que está nos céus, Jesus diz: "Vinde a mim, todos vós." Mas também diz àqueles que possuem tudo, mas cujo coração está vazio e sem Deus. Também a eles, Jesus dirige este convite: "Vinde a mim". O convite de Jesus é para todos. Mas de maneira especial para aqueles que sofrem mais.
Jesus promete dar descanso a todos, mas também faz um convite, que é como um mandamento: "Tomai sobre vós meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração" (Mt 11, 29). O "jugo" do Senhor consiste no carregar o peso do outro com amor fraternal. Tendo recebido o alívio e o conforto de Cristo, somos chamados  a ser alívio e conforto para os irmãos, com atitude de mansidão e humilde, à imitação do Mestre. A mansidão e a humildade de coração, não só nos ajudam a tirar o peso do outro, mas a não sobrecarrega-los com nossos preconceitos, nossos julgamentos, nossas críticas ou nossa indiferença.
Invocamos a Virgem Maria, que acolhe sob o seu manto, todas as pessoas aflitas e desamparadas, para que através de uma fé iluminada, testemunhada com s vida, possamos  ser alívio para aqueles que precisam de ajuda, de carinho e de esperança. 

3 de julho de 2014

Testemunho de um esportista - Devoção e graça


A devoção aos Santos não é uma exclusividade dos católicos. Mas na Igreja, esta prática ganha uma dimensão especial. O artigo que se segue apresenta um belo testemunho, no esporte, de fé e bênção. O texto é de Mirticeli Dias Medeiros e foi publicado no ZENIT.

O Brasil não é somente o país do futebol, mas também pode ser considerado o país do voleibol. Desde a medalha de ouro de Barcelona, em 1992, a modalidade, no Brasil, é uma força emergente.  Atualmente, a seleção brasileira de voleibol masculino está em primeiro lugar no ranking oficial da FIVB (Federação Internacional de Voleibol) e muitos jogadores brasileiros são reconhecidos internacionalmente. 

O carioca Riad Garcia Ribeiro, de 32 anos, é um desses jogadores. O central, que é atleta profissional desde 2000 e atualmente joga pelo Sesi-SP, já coleciona uma série de conquistas no Brasil e fora do Brasil. Mas talvez uma de suas maiores conquistas não tenha chegado ao conhecimento de muitos que o acompanham e admiram à distância: a sua caminhada de fé.


A vida do atleta é nutrida pela devoção à Santa Rita de Cássia a partir de um episódio que mudou a sua vida de uma vez por todas. A fé na intercessão de uma das santas italianas mais populares do mundo, não somente levou o seu time – na época o Trentino, da Itália -, a ser campeão da Champions League, em abril de 2009, mas mudou os rumos de sua trajetória.


“Muitas coisas aconteceram em minha vida pela intercessão de Santa Rita. Um desses acontecimentos foi uma graça muito grande que recebi em 2009 quando tive uma lesão no joelho direito”, ressaltou o atleta.

O inexplicável

A graça, relatada pelo jogador acima, a qual ele atribui à intercessão de Santa Rita, foi ter disputado a semifinal e a final da Champions League sem um incômodo sequer, mesmo com um quadro de lesão que, segundo os médicos, lhe causaria dores terríveis e posteriormente o obrigaria a se afastar das quadras por cerca de um ano.


"Decidi pedir a Santa Rita que intercedesse por mim junto ao Senhor para que Ele tirasse aquela minha dor durante os dois dias das finais [...] E se eu conseguisse jogar sem dor e ganhássemos o campeonato, eu levaria a camisa na qual eu jogasse a final ao Santuário de Santa Rita em Cássia. Como uma forma de agradecimento pela graça alcançada. E assim aconteceu: consegui jogar as duas partidas sem dor e fomos campeões!”, explicou.


E a promessa foi cumprida. A camisa usada por Riad, nesse dia que marcou sua carreira, foi depositada ao lado do corpo incorrupto de Santa Rita em Cássia, na Itália.

Uma fé em crescimento

Desde então, o jogador de vôlei passou a colecionar, além das vitórias conquistadas nas quadras, uma série de acontecimentos que fizeram com que ele se tornasse um católico ainda mais fervoroso. O atleta interpreta sua devoção como um meio para que Deus se torne o critério para suas escolhas no dia-a-dia.

“Hoje encaro a vida com mais fé. [...] Procuro rezar mais, pois Santa Rita passou por inúmeras adversidades e dificuldades em sua vida e nunca desanimou e jamais perdeu a fé em Deus! Hoje, em todas as minhas orações, ao final, digo sempre: ‘E que seja feita sempre a Tua vontade Senhor’ “, afirmou Riad.

E não para por aí.  Riad foi convidado para levar a cruz olímpica durante o encontro do Papa Francisco com os atletas, que aconteceu na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, em julho de 2013. Além disso, chegou a ampliar a reforma de sua casa para acomodar peregrinos vindos da região Nordeste do país.

A experiência vivida em meio aos milhões de jovens na praia de Copacabana, também motivou o atleta a confirmar suas promessas batismais através do Sacramento do Crisma, em 15 de dezembro de 2013.

“O Crisma, desde que voltei a jogar no Brasil, era um desejo muito grande. E comecei a me preparar justamente depois da JMJ [...] Tudo aquilo que senti na Jornada influenciou para que eu tivesse ainda mais vontade de fazê-la. O Riad católico procura sempre estar caminhando junto com a igreja. Vai à missa aos domingos, confessa, reza e procura ler sobre a igreja”, concluiu.

1 de julho de 2014

Política, Evangelho e os rumos da Igreja - Entrevista com o Papa Francisco


O Papa Francisco cedeu uma entrevista à Franca Giansoldati, do jornal italiano Il Messagero, no final de junho. A entrevista foi traduzida e publicada na íntegra no sítio da Unisinos (IHU). Na segunda parte, Francisco falou sobre política. Há menos de uma semana para o início das campanhas eleitorais no Brasil, acompanhar a palavra do Papa pode clarear um pouco mais para a importância da política, que passa por um período de crise, mas que deveria ser redescoberta. Também - e como não poderia deixar de ser -, falou da Igreja, do Evangelho e dos pobres. Seguem alguns trechos da entrevista:

O encontro é em Santa Marta, à tarde. Uma rápida verificação, e um guarda suíço me faz sentar em uma pequena sala de estar.

Seis poltroninhas verdes de veludo um pouco desgastado, uma mesinha de madeira, um televisor daqueles antigos, com a "barriga". Tudo em perfeita ordem, o mármore polido lucidamente, alguns quadros. Poderia ser uma sala de espera paroquial, uma daquelas a que se vai para pedir um conselho ou para fazer os documentos de casamento.

Francisco entra sorrindo: "Finalmente! Eu a leio e agora a conheço". Eu coro. "Eu, ao contrário, o conheço e agora o escuto". Ele ri. Ri com gosto, o papa, como fará outras vezes no decorrer de mais de uma hora de conversa livre. [...]

Existe uma hierarquia de valores a ser respeitada na gestão da coisa pública?

Certamente. Proteger sempre o bem comum. A vocação para qualquer político é essa. Um conceito amplo que inclui, por exemplo, a proteção da vida humana, a sua dignidade. Paulo VI costumava dizer que a missão da política continua sendo uma das formas mais altas de caridade. Hoje, o problema da política – eu não falo só da Itália, mas de todos os países, o problema é mundial – é que ela se desvalorizou, arruinada pela corrupção, pelo fenômeno dos subornos. Lembro-me de um documento que os bispos franceses publicaram há 15 anos. Era uma carta pastoral que se intitulava "Reabilitar a política" e abordava justamente esse assunto. Se não houver serviço na base, não se pode entender nem mesmo a identidade da política.

O senhor disse que a corrupção tem cheiro de podridão. Também disse que a corrupção social é o fruto do coração doente e não só de condições externas. Não haveria corrupção sem corações corruptos. O corrupto não tem amigos, mas idiotas úteis. Pode nos explicar isso melhor?

Eu falei dois dias seguidos desse assunto, porque eu comentava a leitura da Vinha de Nabot. Gosto de falar sobre as leituras do dia. No primeiro dia, abordei a fenomenologia da corrupção; no segundo dia, de como acabam os corruptos. O corrupto não tem amigos, mas apenas cúmplices.