Castanhal, 21 de novembro de 2015
SOLENIDADE
DE CRISTO REI DO UNIVERSO
HOMILIA da ORDENAÇÃO SACERDOTAL de DANIEL PACIFICO e
de EDERSON
As últimas palavras do evangelho desta
solenidade são: “escuta a minha voz”. O discípulo é um coração que escuta. Só a
partir desta escuta podemos compreender o que é a verdade e o sentido da
realeza de Cristo que declara: “Eu sou rei”, “Eu sou o alfa e o ômega, - afirma
no Apocalipse - aquele que é, que era e que vem, o todo poderoso, a testemunha
fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra,
aquele que ama, aquele que liberta”.
Diante de Pilatos que pergunta se ele é
rei, Jesus responde: “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho
da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. A verdade
testemunhada por Jesus é um Pai que ama. Esta é a verdade pela qual ele veio
dar testemunho. Vim para o martírio de um Deus que ama. Esta é a verdade que
ilumina: um Deus que ama e que liberta com o seu sangue. A realeza de Jesus não
está no poder, na força dos exércitos, mas no testemunho-martírio do amor de
Deus.
Com sua realeza Cristo veio fazer de
todo homem um rei, capaz de amar e servir. Veio fazer de todo homem um profeta que
escuta e transmite a palavra, que lembra os homens a Deus e lembra Deus aos
homens. Veio fazer de todo homem um sacerdote, mediador entre o céu e a terra, capaz
de abençoar Deus e o mundo, de bem-dizer, de ver e abençoar o bem e a luz, o
amor e a profecia. Sejam, pois, abençoados todos os leigos de nossa diocese que
vivem seu batismo e que no serviço a Igreja e aos irmãos seguem Jesus Cristo Rei,
Sacerdote e Profeta.
Naquele rei crucificado, coroado de espinhos,
aparece a esplendida beleza do Pai, amante do homem. Aparece também a realeza
de Adão que consiste no amor e no serviço. Jesus, um rei servo. Eis o paradoxo
luminoso da fé de hoje: um rei servidor. O seu manto real é o avental com o
qual cinge-se para lavar os pés dos discípulos. O nosso rei não está acima de
nós, sobre nós, mas ajoelhado aos nossos pés. O nosso rei não está acima de
nós, mas a nosso serviço, a serviço da vida. O seu é um reino de serviço
reciproco que acende liberdade e amizade entre todas as criaturas.
Olhando para a face deste Cristo Rei Jesus, vemos,
antes de tudo, o rosto de um Deus «esvaziado», de um Deus que assumiu a
condição de servo, humilhado e obediente até à morte (cf. Fl 2, 7). A
face de Jesus é semelhante à de tantos nossos irmãos humilhados, escravizados,
esvaziados. Deus assumiu o seu rosto. E aquele rosto olha para nós. Se não nos
abaixarmos não poderemos ver a sua face. Nada veremos da sua plenitude se não
aceitarmos que Deus se esvaziou.
E olhando para a face de Jesus descobrimos os
traços próprios de um padre. Em primeiro lugar a humildade, pois Jesus “não usou de seu direito de ser tratado
como um deus, mas se despojou” (Fl 2, 6). Aqui há uma mensagem perfeita.
Não deve fazer parte dos nossos sentimentos de padres a obsessão de preservar a
nossa glória, a nossa «dignidade», a nossa influência. Somos chamados a
perseguir a glória de Deus que brilha na humildade da gruta de Belém e na cruz
de Cristo.
Em segundo lugar, a abnegação. «Sem cuidar cada um só do que é seu, mas também do que
é dos outros» (Fl 2, 4), pede são Paulo. Portanto o Senhor pede a nós padres
que procuremos a felicidade de quem está próximo de nós. Quando pensamos demais
a nós mesmos, viramos narcisistas, não deixamos lugar para Deus e nos tornamos
incapazes de sair ao encontro dos irmãos e de sermos homens segundo o Evangelho
de Jesus. Ao nos tornar padres decidimos entregar a nossa vida, nos doar
totalmente a Ele e aos irmãos. Só assim o nosso ministério si torna fecundo.
Em terceiro lugar, a alegria. Nós sacerdotes somos apóstolos da alegria, anunciamos
o Evangelho, isto é a Boa Notícia por excelência; não somos certamente nós a
dar força ao Evangelho, mas podemos favorecer ou obstaculizar o encontro entre
o Evangelho e as pessoas. Jesus
fala da felicidade que só sentimos quando somos pobres de espírito, quando
praticamos a solidariedade, a partilha, inclusive do pouco que possuímos,
quando nos sacrificamos diariamente por amor às pessoas. E para termos alegria
e sermos «bem-aventurados», para beneficiar da consolação da amizade com Jesus
Cristo, é necessário manter o coração aberto. A bem-aventurança é uma aposta
laboriosa, feita de renúncias, escuta e aprendizado, cujos frutos se colhem no
tempo, proporcionando-nos uma paz incomparável.
Jesus, é o Filho de Deus que se abaixa, enviado
pelo Pai como homem para o meio dos homens, habitou entre nós e quis
assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, menos no pecado. Da mesma forma vocês,
Ederson e Daniel - como declara Presbiterorum
ordinis, o decreto conciliar que no próximo dia 07 de dezembro completa 50
anos – vocês estão sendo tirados dentre os homens e daqui a pouco constituídos
a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecerem dons e
sacrifícios pelos pecados, convivendo fraternalmente com os homens. O ministério
sacerdotal que vão assumir exige que não vos conformeis a este mundo, mas que
vivais neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçais as vossas
ovelhas e procureis trazer aquelas que não pertencem a este redil, para que
também elas ouçam a voz de Cristo e haja um só rebanho e um só pastor.
Para conseguirem isso, são importantes
as virtudes da bondade, da sinceridade, da fortaleza de alma e constância, do
cuidado assíduo da justiça, da delicadeza, e outras que o Apóstolo Paulo
recomenda quando diz: «Tudo quanto é verdadeiro, tudo quanto é puro, tudo
quanto é justo, tudo quanto é santo, tudo quanto é amável, tudo quanto é de bom
nome, toda a virtude, todo o louvor da disciplina, tudo isso pensai» (Fil. 4,8).
Lembrem que a nossa humanidade é o vaso
de barro onde guardamos o tesouro de Deus, um vaso do qual devemos ter cuidado
para transmitir bem o seu precioso conteúdo. Vejam de não perder as vossas raízes,
pois elas vos ajudam a lembrar quem sois e de onde Cristo vos chamou. Ele vos
tira dentre os homens para vos constituir em favor dos homens. Continuem sempre
homens do povo e não se coloquem acima do povo.
Respondendo ao chamado de Deus vocês se
tornam padres para servir os irmãos e irmãs. Contemplando Jesus Cristo rei do
universo, nós vemos que ele é o Sumo
Sacerdote ao mesmo tempo próximo de Deus
e próximo dos homens, é o servo que se faz próximo dos mais fracos, é o Bom
pastor que sempre cuida do rebanho. Como
padres somos enviados a servir os
homens, a levar-lhes a misericórdia do Pai, a anunciar a sua Palavra de vida.
Queridos Diáconos Daniel e Ederson, vós
não sois ordenados sacerdotes para vós mesmos. Lembrem que a vossa santificação
está estritamente ligada aquela do nosso povo, a vossa unção, à sua unção. Vós
sereis ungidos para o vosso povo.
Nós padres somos constituídos para o
povo. Lembrar isso nos ajuda a não pensar em nós mesmos, a não ser autoritários:
firmes, mas não duros, alegres, mas não superficiais, em suma, pastores e não funcionários.
“Onde tem misericórdia – diz Santo
Ambrósio - tem o Espirito do Senhor, onde
tem rigidez tem só os seus ministros. Mas o ministro sem o Senhor torna-se rígido”.
O Senhor quer pastores e não funcionários.
Diz o Papa Francisco: “O Povo de Deus e
a humanidade são os destinatários da missão dos sacerdotes. O padre nasce do
povo e com o povo deve ficar. É padre sempre no meio dos homens, não um profissional
da pastoral ou da evangelização que faz seu trabalho e depois leva uma vida separada,
a sua vida. Nos tornamos padres para estar no meio do povo. O bem que os padres podem fazer nasce
sobretudo da sua proximidade e do carinhoso amor pelas pessoas. Os padres são
pais e irmãos. A paternidade de um padre faz tanto bem”.
Queridos irmãos e irmãs, na véspera da
abertura do Jubileu da Misericórdia do Pai, peço que rezem para que estes dois
novos padres e todos nós padres da nossa Diocese de Castanhal, tenhamos
entranhas de misericórdia e um olhar amoroso e bondoso para com todos, saibamos
sempre acolher bem a todos, e nunca rejeitar a ninguém. Pois o amor de Deus se
faz concreto através dos seus ministros e Ele nunca rejeita.
Que vocês, Daniel e Ederson, e nós
padres, configurados sempre mais ao Senhor, sejamos padres segundo o coração do
Senhor e não funcionários. Amém.
Dom Carlos Verzeletti