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26 de maio de 2015

HOMILIA DA VIGILIA DE PENTECOSTES 2015

Querido Mons. Gabriel, meus caros padres, diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas, vós que sereis instituídos como Ministros da Palavra e Animadores das pequenas comunidades, os que nos acompanham pela TV Mãe de Deus e vós todos irmãos e irmãs,
Vindos de todas as paróquias de nossa Diocese e reunidos pela fé, nesta Grande Vigília de Pentecostes, esperamos e imploramos do Pai o dom do Espírito prometido por Jesus, para que, como água viva, jorre sem cessar em cada um de nós, nas nossas famílias, nas pequenas comunidades, nos movimentos e pastorais, nas paróquias de nossa diocese e no mundo inteiro.
São Lucas, autor dos atos dos Apóstolos nos fala do Pentecostes através de símbolos coloridos. O primeiro deles é a casa. “os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar... e um vento forte encheu a casa em que se encontravam”. Um grupo de homens e mulheres dentro de uma casa qualquer. A Igreja começou numa casa, num espaço limitado, com poucas pessoas. Em casa as pessoas que se conhecem, se relacionam, partilham a vida, as alegrias e as tristezas, se ajudam mutuamente, vivem a experiência do amor. É na casa que a pequena comunidade se encontra e cresce.
De uma igreja de massa, 
precisamos urgentemente 
passar para uma Igreja-família, 
recuperar a dimensão doméstica 
da vida cristã. A tão falada 
conversão pastoral de 
nossa Igreja passa pela 
setorização das nossas 
paróquias em pequenas 
comunidades eclesiais. 

Mas isso não é possível se não houver quem pastoreie, quem anime e coordene as pequenas comunidades. Foi por isso que em nossa 3ª Assembleia Diocesana nos comprometemos a cuidar da formação dos animadores, do seu acompanhamento e de sua avaliação. E aqui estão vocês, queridos animadores das pequenas comunidades fruto deste trabalho, prontos para animar, acompanhar, cuidar as pequenas comunidades existentes, fortificá-las, multiplicá-las e incentivar a sua criação nas periferias de nossas cidades, sobretudo lá onde a Igreja está ausente. E também vocês irmãos e irmãs, escolhidos para serem ministros da Palavra.
“Um vento forte encheu a casa onde se encontravam” (At 2,2). Jesus tinha prometido o dom do seu Espirito Santo. E chegou, naquele dia, como um vendaval sacudindo a casa, varrendo do coração dos discípulos o medo, o desânimo, a timidez, a acomodação, a tristeza. Também nós nesta noite pedimos que o Espírito purifique o coração da sua Igreja. Coloque verdade entre nós. Ensine-nos a reconhecer os nossos pecados e limitações. Nos recorde que somos como todos: frágeis, medíocres e pecadores. Liberte-nos da nossa arrogância e falsa segurança. Nos ajude a caminhar com mais verdade e humildade.
“Encheu a casa”. O Espírito enche a sua casa, a sua Igreja. Sem o Espírito a Igreja é uma casa apagada, fechada, opaca, triste, paralisada, sem vida, sem futuro, estéril, infecunda. Sem o Espírito Santo as nossas paróquias, comunidades, pastorais e movimentos e cada pequena comunidade são estruturas velhas, mortas, insignificantes, incapazes de levar as pessoas ao encontro com Cristo, de dar sentido as suas vidas, de reacender sua esperança e de levá-las a vivência do mandamento do amor.
“Encheu a casa”, quer dizer que encheu todos os que estavam naquela casa, que faziam parte daquela família, aquela célula inicial da Igreja. O Espírito encheu e dilatou aquela casa, aquele pequeno grupo, abriu os seus horizontes. E nós, nesta noite, pedimos que o Espírito Santo encha a nossa Igreja de Castanhal, dilate o coração do bispo, dos padres, diáconos, religiosos/as, de cada batizado, de todos os irmãos e irmãs que fazem parte das nossas pequenas comunidades, sobretudo encha o coração de cada animador, pois quem anima o animador é o próprio Espírito Santo.
O termo “animador” vem da palavra 
latina “anima”, que quer dizer “alma”; 
o animador é a alma da pequena comunidade. 

Não caiamos no equívoco de pensar que o bom animador é aquele que faz barulho, puxa um “flash-móvel” ou leva na onda do ôba-ôba uma multidão. Não! Um animador é de fato a alma de uma pequena comunidade quando se deixa animar e conduzir pelo Espírito Santo, por Ele introduzir na plena verdade e guiar a compreensão interior da Palavra de Jesus, quando se deixa ajudar a discernir entre o bem o e mal, e encontra nEle a fortaleza para perseverar no bem e vencer nas provações.
O bom animador sabe que é o Espírito Santo que desperta a nossa fé débil, pequena e vacilante. É Ele que nos ensina a viver confiando no amor insondável de Deus nosso Pai a todos os seus filhos e filhas, estejam dentro ou fora da tua Igreja.
Queridos animadores, a vossa primeira missão é ajudar os irmãos de sua pequena comunidade a encontrar Jesus, a descobrir a beleza do seu amor e isso só é possível graças ao Espírito Santo. Lembrem que nem o Bispo, nem os padres, nem o animador são o centro da Igreja. O centro da Igreja, o centro da pequena comunidade é Jesus. Que nada nem ninguém O suplante nem O obscureça. Que o Espírito Santo nos atraia para o Evangelho de Jesus, nos dê a graça de converter-nos para segui-lo. Que não fujamos da sua Palavra, nem nos desviemos do seu mandato de amor. Que não se perca no mundo a sua memória. Mais intensa e profunda for nossa relação de amor com Jesus, através da vida em comunidade, da sua Palavra, dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia e dos pobres, mais atrativo e autêntico será nosso testemunho.
“E apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles” (At 2, 3). O fogo é símbolo de Deus e da nossa vida acendida, abrasada e iluminada por Ele e pelo seu amor. Um fogo que com a força do vendaval se reparte, se espalha e alcança a todos, chega à alma de todos, se faz presença amorosa em todos.
Queridos animadores, a vossa missão é a de saber reconhecer em cada irmão e irmã a presença e a ação do Espírito de Jesus, levando cada um a partilhar os dons de Deus com os outros. Vocês animam a pequena comunidade não quando vocês fazem tudo, mas quando sabem valorizar o dom e a diversidade de cada um e integrá-lo na harmonia da comunidade.
“E começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia expressar-se” (At 2,4). Que bonito encontrar irmãos que abrem seus ouvidos ao Espírito, escutam os seus chamamentos, e quando falam de Deus seus olhos brilham, sua voz embaça, com espontaneidade animam, encorajam, confortam, e contam o Evangelho com simplicidade ajudando os irmãos a perceber, mesmo nos sofrimentos, conflitos e contradições, a presença viva e amorosa de Deus.
O que aconteceu no dia de Pentecostes foi além daquelas paredes daquela casa, transbordou, invadiu a praça de Jerusalém, atraindo gente dos quatro cantos do mundo. O Espírito não pode ser contido, guardado, encaixotado. Da mesma forma quem recebe o Espírito é lançado para fora, na praça do mundo. As nossas pequenas comunidades serão Igrejas autênticas se não se fecharem em si mesmas, se estiverem de portas abertas para acolher a todos, e sempre com o pé na estrada, prontas para ir ao encontro de todos. Cuidado em não tornar nossas comunidades um ninho protetor da nossa mediocridade, ou esconderijos de nosso intimismo. 

A comunidade de Jerusalém 
com o dom do Espírito nasce 
missionária. O Espírito só 
gera comunidades missionárias, 
nos torna livres e criativos, nos 
lança para fora no mar da história 
para descobrir, quanto mais 
navegamos novos mares: nós 
somos a vela e Ele o vento.
Se as nossas comunidades não forem missionárias não são obra do Espírito, não levam a nada. São missionárias somente se forem fecundas, se crescerem e se multiplicarem e atrair para Cristo novos irmãos, se cada membro da pequena comunidade tiver consciência de ser missionário e viver ativamente a missão, cuidando, acompanhando e rezando pelo menos por um irmão afastado, um parente, um amigo, um vizinho, um colega de trabalho, em fim, se com alegria, partilhar com eles sua fé e sua experiência do amor de Deus que salva.
E nós, bispo, padres, diáconos, ministros da Palavra, animadores das pequenas comunidades e cada batizado somos chamados – como nos repete insistentemente o papa Francisco, a irmos ao encontro das pessoas, “acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa, levanta o seu próximo... capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão, sem perder-se... de sair de si, de ir ao encontro de quem não frequenta a Igreja, de quem a abandonou ou lhe é indiferente” (Papa Francisco 19 de agosto 2013), para anunciar-lhes, “as maravilhas de Deus” (At2,11): o seu infinito amor (do Senhor) que salva e a sua eterna misericórdia.
Que o Espírito Santo 
nos ensine a olhar de 
forma nova a vida, 
o mundo e, sobretudo, 
as pessoas. 

Que aprendamos a olhar como Jesus olhava aos que sofrem, aos que choram, aos que caem, aos que vivem sós e esquecidos. Se mudar o nosso olhar, mudará também o coração e o rosto da sua e da nossa Igreja. Se nos esforçarmos a ser autênticos discípulos de Jesus, irradiaremos melhor a sua proximidade, a sua compreensão e solidariedade para com os mais necessitados. Iremos parecer-nos mais ao nosso Mestre e Senhor.
Celebrando os 10 anos de nossa Diocese, ainda muito comovidos pela santa partida ao céu do nosso querido e amado Pai, Dom Vicente Zico, pedimos que ele interceda por nós junto de Jesus por nossa Diocese, invoque sobre nós o Espírito Santo para que fortaleça nossos padres e diáconos, ilumine os ministros da Palavra, sustente os passos dos animadores das pequenas comunidades, para que estas sejam mais felizes, alegres, em paz e acolhedoras. Torne os animadores, discípulos missionários que acompanham discípulos missionários. Faça de nós uma Igreja de portas abertas, coração compassivo e esperança contagiosa. Que nada nem ninguém nos distraia ou desvie do projeto de Jesus: fazer um mundo mais justo e digno, mais amável e ditoso, abrindo caminhos ao Reino de Deus. Amém.
+ Carlos Verzeletti
Bispo de castanhal


Castanhal, 23 de maio de 2015 - Vigília de Pentecostes


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