LECTIO DIVINA
Por Dom Carlos Verzeletti
Bispo da Diocese de Castanhal
Lucas 15, 1-3.11-32
Os fariseus e escribas se consideravam justos, bons, pessoas de bem, e condenavam Jesus por está no meio destas pessoas, no capítulo 14, versículo 7 de Lucas, também fala do banquete, e mostra que alguns estão fora do banquete, justamente os escribas e fariseus que se consideram justos.
A alegria do pai é ver a casa cheia, ver que não falta nenhum filho, até o filho que mais se afastou, “aquele cabeça quente”, agora chega e faz parte do banquete, mas, na mesa do pai falta sim alguém, e falta justamente aquele que estava sempre lá na casa, aquele, está mais fora do que dentro de casa, e depois ele não quer sentar na mesa não quer entrar, está com raiva.
Por isso Jesus contou a parábola para os escribas e fariseus, e para eles colocou a figura do filho mais velho, é Deus, o Pai, que está fazendo tudo, todas as tentativas de o convencer. Estes justos se consideravam tudo, “nós respeitamos a lei...” Como se a salvação fosse uma conseqüência daquilo que eles faziam, quem é que se salva aqui? É filho arrependido, é aquele que diz: - pai pequei - este se salva, mas o filho mais velho que está cheio de si, é aquele que continua dizendo: “- Eu sempre fiz isso, fiz aquilo...” Está cheio de si, está fora.
Ele está fora não porque o pai o colocou para fora, mas porque ele mesmo não quer entrar. Está com raiva por que o pai é bom, está com raiva por que o pai ama também aquele filho que fez bobagens.
Os que conseguem o perdão são aqueles que se reconhecem na miséria, que diz: - Pai pequei contra ti, não sou digno de ser chamado de teu filho, estes são dignos da misericórdia Porque conhecem a sua miséria. Os justos que estão “entalados” com sua própria justiça, consideram-se melhor que os outros, são auto-suficientes não precisam da misericórdia de Deus, eles acabam por se excluir. Porem o Pai ama gratuitamente a todos.
O Pai ama o filho não porque este presta, porque o filho é bom, nem o menor é bom e nem o maior, o Pai nos ama gratuitamente.
O amor do Pai não depende dos merecimentos, “Deus me ama mais por que mereço mais”, não, mas este amor do pai é maior na medida em que maior for a minha miséria, sou mais miserável Deus me ama mais, não porque sou bom, é proporcional a minha miséria, quanto mais miserável Deus me ama mais.
Nós não merecemos nada, quando pensamos que somos melhores que os outros já estamos perdidos, por isso aqueles que acreditam que já são donos da salvação, é que estão distantes da dela, acabam se excluindo, os pecadores que são acolhidos aqui, são aqueles que dizem: “- eu não sou merecedor da salvação”. Temos que lembrar que não somos um grupo de justos, em nosso meio não existe nenhum justo, somos uma comunidade de pecadores, pecadores que estão com o coração aberto para Deus, ansiosos, desejosos de seu perdão, quando um espera a misericórdia de Deus se torna misericordioso com os outros, sendo que Deus foi bom para comigo, também serei bom para com os outros, se foi misericordioso para comigo também serei para com os outros, Deus perdoa a mim, também perdôo aos outros.
Vejam aí o filho mais velho, que não perdoa porque se considera o filho melhor, o justo, ele não acolhe a misericórdia, está fora, vemos aqui o Pai que tenta de convencer a entrar para o banquete não o filho menor, mas o maior, a ocupar o lugar que está vazio que ele deixou na mesa, a festa será plena não se voltar somente o menor, mas se voltar também o maior, se fizer as pazes com menor.
O filho mais velho tem que se esvaziar de seu orgulho, de sua presunção, pois ele diz: “- Eu trabalho para ti a tantos anos, jamais desobedeci qualquer ordem tua, fiz tudo certinho e nunca deste um cabrito para festejar com meus amigos, mas quando este teu filho...” veja como ele não chama o menor de irmão, “teu filho” ele também não usa a palavra pai, não conseguiremos chamar Deus de pai se não chamarmos o outro de irmão. Este filho que se acha certinho, mas se nos perguntarmos a quem nos assemelhamos, certamente se responderia que nos parecemos ao filho pródigo (o mais novo), mas na verdade nos assemelhamos ao filho mais velho.
É Deus que nos ensina hoje a não sermos assim, Ele que é misericordioso. Deus que nos é apresentado hoje é bem diferente d’aquele que Adão tinha idéia, pois tinha medo de Deus, ainda hoje, tem muita gente que tem medo de Deus, e por que estão com medo de Deus? Porque estes tem um imagem errada de Deus.
O filho mais novo pensa que o pai está tirando sua liberdade, e imagina que saindo de casa vai gozar a vida, é esta a imagem errada do filho menor enquanto que o filho mais velho tem outra imagem errada do Pai, “eu faço tudo certinho...” (uma troca).
Lucas no evangelho quer que tenhamos uma visão bonita de Deus, Jesus veio nos revelar a imagem bonita do Pai, sua misericórdia e compaixão, não é o carrasco, aquele que tira a liberdade, o Pai respeita a liberdade. Jesus com esta parábola revela o amor do pai, esta é a compreensão necessária, que faz com que o pecador em sua humildade reconheça, “Pai pequei, eu não sou mais digno de ser considerado teu filho...” o filho menor não tinha uma imagem de pai, mas de patrão. Temos na cabeça esta idéia, que Deus é um “patrão”, mas o pai não deixa nem que o filho use a palavra “empregado”.
Temos que descobrir esta ternura de Deus, se tivermos uma opinião errada de Deus, também teremos uma opinião errada do irmão, a parábola se dirige aqueles que se consideram justos e não querem descobrir esta imagem bonita de Deus.
Mesmo assim o Pai faz de tudo para recuperar o irmão maior que exclui o irmão menor, e excluindo o irmão menor acabou se excluindo do amor do pai. Jesus tenta de convencer este filho mais velho (fariseus e escribas), desse modo Jesus está justificando sua presença entre os pecadores, e ao mesmo tempo está convidando os fariseus e escribas a entrar neste salão de festa, no banquete, e por isso apresenta a parábola.
O Pai não exclui nenhum filho, o que se exclui é aquele que não reconhece o outro como seu irmão. Ou seja, não é Deus que nos exclui, mas nós, nos excluímos não querendo reconhecer os outros como irmãos.
Publicado por
Pastoral da Comunicação
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