Quando nasce o mês de outubro, Castanhal veste seu manto. São flores, faixas,
fitas e frases em honra à Virgem Maria. Nossos passos entram no ritmo das
canções marianas, os olhares dirigem-se as tantas berlindas espalhadas pela
cidade, as vozes ficam mais serenas e os corações num pulsar acelerado. Na
porta das casas o cartaz da Romaria anuncia que ali reside a Rainha. Na camisa,
a estampa diz que ela também reside naquele coração.
O mês começa e Maria vem reavivar em cada um de nós o fogo do amor, da
esperança, da fé e da caridade. Vem de vagar, sem pressa, trazendo no colo o
Menino Deus, na face um olhar calmo e um sorriso gracioso e no peito um coração
abrasado pelo amor de Deus, pronto a fazer a sua vontade.
Ela vem visitando cada lar, escola, hospital, presídio, loja... Não
deixa de passar por uma rua que seja. Quer chegar perto de todos, sem
distinção. E por onde passa deixa almas mais calmas, lágrimas menos amargas,
sorrisos mais esperançosos, e espalha um rastro de flores e estrelas que
enfeitam e cintilam a vida deste povo tão sofrido. Silenciosamente, no coração
de Mãe tudo guarda: os pedidos, as promessas, as homenagens, os cânticos, a
vida de cada pessoa que lhe dirige o olhar e entrega o coração.
No terceiro domingo, aquele que todos aguardaram com ansiedade e
entusiasmo, o dia do Senhor e também este é o da Senhora, as ruas de Castanhal
são inundadas por um mar de pessoas; se a fé tem uma expressão visível, eis a
nossa Romaria! E mais uma vez vem Maria, em sua berlinda, com vestes de festa,
rodeada de flores e corações abrasados pelo amor que ela mesma transmitiu, que
recebeu do Pai e doou a seus filhos. Lá de cima, ela olha para cada um, desde o
primeiro até o último, quer segurar suas mãos e ajudá-los a caminhar, como
ajudou o próprio menino Jesus, levar-nos para seu santuário, para a sua casa,
para morarmos com ela.
Mas a Romaria não termina quando chega ao Santuário, dali a Mãe vai para
a casa de cada um, almoçar com seus filhos, confraternizar-se com eles, e sem descansar
da longa caminhada.
Durante a semana de festa o povo chega cedo, o sol nem se pôs ainda e as
pessoas vêm buscar o sacramento da reconciliação. Esse é o tempo propício para
reencontrar-se com sigo mesmo reconhecendo suas faltas diante de Deus. Parece
até que nossa mãezinha sussurrou em nosso ouvido bem baixinho: “Filho, vá
confessar! Participa deste banquete comigo e com teu irmão, Jesus. Vem para a
festa conosco!”. E nós, filhos
obedientes, seguimos o seu conselho.
E ela vem, todas as noites, sacrário vivo, trazendo Jesus e colocando-o
em nosso coração, nos tornando também sacrários vivos. Depois, na festa, quando
a praça transborda de pessoas, cantando e dançando, ela continua conosco. Como
toda mãe, está sempre por perto, olhando, participando de tudo.
Ela, Mãe e rainha, caminha conosco, vive conosco, não nos abandona. Está
Ave-Maria que rezamos nas contas de um rosário, na fitinha amarrada no pulso,
na fé que não se vê, mas se pode sentir, na voz que canta que “Vós sois o Lírio
Mimoso”, no perfume das flores que a homenageiam, ela sempre está ao nosso
lado.
Diz numa canção que Maria é “uma expressão de amor que não se pode
exprimir com as letras do alfabeto”, e de fato, as letras não são suficientes
para descrever o amor que tem o coração de Maria. Ela que foi amada pelo
próprio Amor e que O acolheu dentro de si. Talvez nem seja necessário
descrevê-la, pois ela pede que simplesmente façamos o que Jesus, seu filho, nos
disser. E Ele nos diz para sermos como sua mãe, que em tudo fez a vontade do
Pai.
A Romaria passou! Passou com homenagens e orações, lágrimas e
sorrisos... passou como o tempo e com ele, mas Maria permanece, Maria fica
conosco.
Castanhal, 21 de outubro de 2010
Tiago Beserra
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