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24 de outubro de 2011

Maria fica conosco


Quando nasce o mês de outubro, Castanhal veste seu manto. São flores, faixas, fitas e frases em honra à Virgem Maria. Nossos passos entram no ritmo das canções marianas, os olhares dirigem-se as tantas berlindas espalhadas pela cidade, as vozes ficam mais serenas e os corações num pulsar acelerado. Na porta das casas o cartaz da Romaria anuncia que ali reside a Rainha. Na camisa, a estampa diz que ela também reside naquele coração.
O mês começa e Maria vem reavivar em cada um de nós o fogo do amor, da esperança, da fé e da caridade. Vem de vagar, sem pressa, trazendo no colo o Menino Deus, na face um olhar calmo e um sorriso gracioso e no peito um coração abrasado pelo amor de Deus, pronto a fazer a sua vontade.
Ela vem visitando cada lar, escola, hospital, presídio, loja... Não deixa de passar por uma rua que seja. Quer chegar perto de todos, sem distinção. E por onde passa deixa almas mais calmas, lágrimas menos amargas, sorrisos mais esperançosos, e espalha um rastro de flores e estrelas que enfeitam e cintilam a vida deste povo tão sofrido. Silenciosamente, no coração de Mãe tudo guarda: os pedidos, as promessas, as homenagens, os cânticos, a vida de cada pessoa que lhe dirige o olhar e entrega o coração.
No terceiro domingo, aquele que todos aguardaram com ansiedade e entusiasmo, o dia do Senhor e também este é o da Senhora, as ruas de Castanhal são inundadas por um mar de pessoas; se a fé tem uma expressão visível, eis a nossa Romaria! E mais uma vez vem Maria, em sua berlinda, com vestes de festa, rodeada de flores e corações abrasados pelo amor que ela mesma transmitiu, que recebeu do Pai e doou a seus filhos. Lá de cima, ela olha para cada um, desde o primeiro até o último, quer segurar suas mãos e ajudá-los a caminhar, como ajudou o próprio menino Jesus, levar-nos para seu santuário, para a sua casa, para morarmos com ela.
Mas a Romaria não termina quando chega ao Santuário, dali a Mãe vai para a casa de cada um, almoçar com seus filhos, confraternizar-se com eles, e sem descansar da longa caminhada.
Durante a semana de festa o povo chega cedo, o sol nem se pôs ainda e as pessoas vêm buscar o sacramento da reconciliação. Esse é o tempo propício para reencontrar-se com sigo mesmo reconhecendo suas faltas diante de Deus. Parece até que nossa mãezinha sussurrou em nosso ouvido bem baixinho: “Filho, vá confessar! Participa deste banquete comigo e com teu irmão, Jesus. Vem para a festa conosco!”.  E nós, filhos obedientes, seguimos o seu conselho.
E ela vem, todas as noites, sacrário vivo, trazendo Jesus e colocando-o em nosso coração, nos tornando também sacrários vivos. Depois, na festa, quando a praça transborda de pessoas, cantando e dançando, ela continua conosco. Como toda mãe, está sempre por perto, olhando, participando de tudo.
Ela, Mãe e rainha, caminha conosco, vive conosco, não nos abandona. Está Ave-Maria que rezamos nas contas de um rosário, na fitinha amarrada no pulso, na fé que não se vê, mas se pode sentir, na voz que canta que “Vós sois o Lírio Mimoso”, no perfume das flores que a homenageiam, ela sempre está ao nosso lado. 
Diz numa canção que Maria é “uma expressão de amor que não se pode exprimir com as letras do alfabeto”, e de fato, as letras não são suficientes para descrever o amor que tem o coração de Maria. Ela que foi amada pelo próprio Amor e que O acolheu dentro de si. Talvez nem seja necessário descrevê-la, pois ela pede que simplesmente façamos o que Jesus, seu filho, nos disser. E Ele nos diz para sermos como sua mãe, que em tudo fez a vontade do Pai.
A Romaria passou! Passou com homenagens e orações, lágrimas e sorrisos... passou como o tempo e com ele, mas Maria permanece, Maria fica conosco.
Castanhal, 21 de outubro de 2010
Tiago Beserra

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