“O povo do
Brasil está cheio de ladrões... roubaram o meu coração”. Foi o que disse o Papa
Francisco ao novo cardeal brasileiro, Orani João Tempesta. Francisco referia-se
à onda de carinho que recebeu durante a sua viagem ao Rio de Janeiro por
ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em julho de 2013. Um afeto que
manifestará também com a próxima Copa do Mundo, que saudará com uma mensagem
contra o racismo.
A reportagem
é de Andrés Beltramo Alvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 24-02-2014.
A tradução é de André Langer.
No próximo
dia 28 de fevereiro, a cidade do Rio de Janeiro comemorará o 448º aniversário
de sua fundação. Nesse dia, com o apoio da Arquidiocese local, haverá uma
grande festa aos pés do Cristo Redentor. Por esse motivo, Tempestaaproveitou
sua elevação cardinalícia do fim de semana passado para pedir a Jorge Mario
Bergoglio uma palavra dirigida ao seu povo.
“Pedi ao
Santo Padre uma palavra, porque na terça-feira voltarei ao Rio de Janeiro para
as celebrações com a diocese. Perguntei-lhe o que devia dizer às pessoas e ele
ratificou seu carinho e sua amizade com todo o povo brasileiro, agradeceu a
proximidade e disse que o povo brasileiro é ‘ladrão’ porque soube roubar seu
coração”, assegurou o arcebispo em entrevista ao Vatican Insider.
Também
referiu-se à incisiva homilia pronunciada pelo Papa na missa do domingo, 23,
por ocasião da criação de 19 novos cardeais da Igreja. O Pontífice disse com
clareza que a Igreja de Roma “não é uma corte” e, por isso, os cardeais devem
evitar as atitudes cortesãs, “as intrigas, as fofocas, as panelinhas e os
favoritismos”.
“Está muito
bem o que disse o Papa, uma reflexão que partiu da primeira leitura da missa e
também do Evangelho”, indicouTempesta e acrescentou que os cardeais receberam a
mensagem que incluiu a necessidade de não sentir-se uma corte, mas também o
convite, como membros do clero de Roma, a caminhar na conversão e na santidade.
Tempesta foi
prudente na hora de comentar as discussões do Consistório Extraordinário
realizado nos dias 20 e 21, convocado por Francisco para abordar o tema da
pastoral familiar. Esclareceu que nessas reuniões o Pontífice quis conhecer a
opinião dos cardeais, antigos e novos, em relação à próxima assembleia do
Sínodo, prevista para outubro deste ano. “Demos o nosso parecer, mas será o
Sínodo que deverá decidir tudo”, apontou.
“Depois do
belo gesto de Bento XVI de renunciar, muito querido, como se viu nos aplausos
(quando reapareceu pela primeira vez publicamente) na celebração do sábado.
Agora há a proximidade com o povo, a proximidade, o diálogo com a sociedade, a
preocupação com a paz, a fome, a justiça, com os refugiados e uma renovação da
Igreja em seu interior, que é o que o Santo Padre quer com o seu trabalho”,
insistiu.
O Brasil
parece disposto a ter uma relação especial com o Papa latino-americano,
inclusive acima da sua Argentina natal. Notou-se isso nas delegações oficiais
que participaram durante a criação dos novos cardeais na Basílica de São Pedro.
Enquanto os brasileiros estiveram representados pela presidente Dilma Rousseff,
a presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner enviou o secretário de
Culto, Guillermo Oliveri.
Na
sexta-feira, 21, pela tarde, Rousseff reuniu-se em privado com o líder
católico, em uma salinha situada dentro da Sala Paulo VI do Vaticano. Uma
audiência que durou, no total, cerca de meia hora. Ao final do encontro
Bergoglio recebeu como presentes uma camisa da seleção assinada pelo ídolo Pelé
e uma bola assinada por Ronaldo.
“Tudo isto é
para que reze pelo Brasil para que ganhe a Copa?”, brincou Francisco. “Santo
Padre, ao menos lhe pedimos neutralidade”, respondeu entre risos Dilma. Ao sair
do encontro ela mesma comunicou, pelo Twitter, que o Pontíficeaceitou gravar
uma mensagem contra o racismo por ocasião do mundial de futebol.
“É uma forma
de mostrar que o futebol, ao congregar centenas de países, criar um espírito de
fraternidade e despertar tanta emoção, também é o momento para defender a paz e
manifestar-se contra o preconceito, causas que unem todos os povos e religiões”,
apontou.